Ontem comemorou-se o Dia do Quadrinho Nacional. Uma homenagem a Angelo Agostini, considerado o pai dos quadrinhos brasileiros, que no dia 30 de janeiro de 1869 publicou aquela que é considerada por muitos pesquisadores a primeira História em Quadrinhos do Brasil: As Aventuras de Nhô Quim. Agostini abriu caminho para o surgimento do quadrinho nacional e para a criação de personagens que marcaram a vida de várias gerações, como Pererê, o Amigo da Onça, a Graúna, O Judoca e, claro, os personagens da Turma da Mônica.
No século XX, as Histórias em Quadrinhos foram responsáveis pelo surgimento de uma indústria de entretenimento que ultrapassou as páginas dos jornais e dos gibis. Personagens dos quadrinhos estão em todos os lugares: nas roupas, mochilas, filmes, brinquedos e até em fraldas de bebês. Não se pode esquecer que a arte dos quadrinhos é uma arte submetida à ordem capitalista.
Há artistas idealistas que trabalham pelo prazer e artistas pragmáticos que querem conquistar sucesso e notoriedade. Todos eles conhecem muito bem as dificuldades de sobreviver num mercado de trabalho que é tudo menos justo. Longe do glamour dos grandes encontros como a Comic Con, os profissionais dos quadrinhos encaram longas horas de trabalho e sonham com o reconhecimento e enfrentam dificuldades financeiras. São como operários em uma fábrica, onde o patrão enriquece explorando a mais-valia.
Entre os grandes desafios enfrentados pelos profissionais dos quadrinhos estão a valorização da profissão e a luta contra o machismo que impede que muitas mulheres sejam bem sucedidas no meio. Quando falo valor, estou mesmo me referindo ao valor monetário. Ser quadrinista e sobreviver fazendo quadrinhos não é fácil. A arte, de forma geral, não é valorizada, assim como trabalho do artista. Poucos são os quadrinistas que vivem apenas do seu trabalho com quadrinhos e são bem pagos por isso.
Por outro lado, temos as mulheres quadrinistas que além vitimas do machismo, que as coloca em segundo plano e dificulta sua entrada em grandes editoras, têm seu trabalho desvalorizado em relação aos homens. Elas recebem até metade do valor pago a uma artista ou argumentista homem para fazerem o mesmo trabalho. E essa é uma realidade global, não apenas brasileira. Em menor ou maior medida, as mulheres sofrem com exploração e exclusão em todo o mundo.
Mas contra este estado de coisas existe a resistência, tanto de homens quanto de mulheres. A resistência se manifesta na forma de quadrinhos independentes, na criação de coletivos de artistas, nos eventos onde se debate a situação do quadrinho nacional e, também, do papel da mulher no quadrinho nacional. E é essa resistência que deve ser festejada.
É ela que vai proporcionar o surgimento de quadrinhos mais engajados, com conteúdo. É ela que transforma as Histórias em Quadrinhos em espaço de denúncia contra a opressão. A opressão contra a mulher, contra as crianças, os idosos, os gays. A opressão que está presente na nossa sociedade e que se manifesta de diferentes formas.
É a resistência que motiva o questionamento. Questionamento este que nos quadrinhos se faz na forma de imagens e palavras (às vezes apenas imagens). A resistência que rompe com a lógica perversa do capitalismo e transforma a arte num instrumento de luta contra a ignorância e na construção de um futuro mais promissor.
Uma resistência libertadora que vejo no trabalho de quadrinistas jovens e veteranos e que representa o inconformismo com a desigualdade e o desejo de mais oportunidades para todos.
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