quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

NÃO ADIANTA: TEM QUE SABER ESCREVER


Os alunos, de uma forma geral (mas nem todos, felizmente), acham que o professor ou a professora são bons ou ruins de acordo com a nota que tiram na prova e no grau de dificuldade da matéria. Eu sei que é uma generalização, mas nos meus vinte anos de magistério, é o que eu tenho visto. Outra coisa, eles também acham que só precisam se preocupar em escrever corretamente nas aulas de língua portuguesa e ainda acham um ABSURDO que professor de outra matéria cobre uma boa redação. E pasmem: alguns pais concordam com isso!

Eu até me acho bem maleável. Eu peço uma boa redação e até deixo passar algumas palavras erradas, afinal, todo mundo erra, inclusive professor. Palavras erradas a gente sempre pode corrigir, mas saber escrever é uma questão de prática e, é claro a tal da vontade de aprender. Mas o caso é que os jovens não estão sabendo escrever e não estão se importando com isso. Deixe-me esclarecer o que eu entendo por "saber escrever". Saber escrever é: 

  • saber deixar claras as ideia, criando um texto coerente;
  • saber usar bem as palavras;
  •  ter boa concordância;
  • ter um bom vocabulário (que vai melhorando e se ampliando à medida que se lê, que se ouve o que o outro está dizendo, etc.).

O que temos hoje são alunos, principalmente adolescentes, que estudam para o momento. Decoram matéria, querem que o professor dê resumos que dispensem um estudo mais aprofundado, e lhe garanta um nota boa no boletim. Pois é, nota boa para mostrar aos pais e nenhum conhecimento adquirido para enfrentar o mundo. Sim, porque a vida não é justa e na "selva de pedra" ninguém é coitadinho. Ou sabe ou não sabe. A realidade é que  pouca gente anda querendo aprender.

E não sou eu que estou dizendo isso. Os resultados estão aí. 

"Dos 6.193.565 candidatos que fizeram o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2014, 529.374 participantes tiveram nota zero na redação do Enem (8,5%), segundo dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Apenas 250 obtiveram a nota máxima (1.000) na redação e 35.719 inscritos tiveram notas entre 901 e 999. Ao todo, 248.471 redações foram anuladas."[1]




Quase 10% de jovens tiraram zero em redação. Há quem vá dizer que é pouco. Mas vejam bem, APENAS 250 em mais de 6 milhões conseguiram nota máxima. Chega a ser indecoroso! Uma vergonha para o país e para o nosso sistema de ensino. E não venham me dizer que a culpa é do professor (sempre dizem isso) que não ensina o que o aluno precisa saber.

Infelizmente, vivemos no sistema dos "coitados". O coitado precisa ter sua nota garantida, senão a escola está falhando com ele. Ele não aprendeu, coitado, não pode ser reprovado. Acontece que os coitados são todos. Todos os alunos devem ser aprovados mesmo sem ter aprendido o necessário. São aprovados na escola e reprovados no ENEM e em tantos outros momentos em que a vida vai cobrar deles o que a escola foi impedida de oferecer: preparo.






[1] 529 mil candidatos tiraram zero na redação do Enem 2014. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/01/13/529-mil-candidatos-tiraram-zero-na-redacao-do-enem-2014.htm, acesso em 15 de jan. de 2015.


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