Neste aniversário de Leopoldina eu procurava algo mais a acrescentar à nossa história, sem ter muita certeza do que eu pretendia exatamente fazer, afinal, são muitos caminhos que podem ser tomados, levando-se em conta a fragmentação da nossa história, perdida em arquivos imundos ou simplesmente esquecida pelos nossos pares.
Olhando minhas anotações e meu material de pesquisa, que eventualmente consulto quando tenho algum tempo disponível, deparei-me com um personagem muito importante da nossa história: Dilermando Cruz.
Sou a primeira a admitir que não sabia quem era Dilermando Cruz, embora o nome não me fosse estranho. Lendo algumas reportagens sobre ele no Semanário O Novo Movimento, publicado na década de 1910, em Leopoldina, comecei, então minha pesquisa e, quanto mais descobria, mais intrigada eu ficava.
Num primeiro momento eu o confundi com o médico e político Dilermando Cruz Filho, possivelmente filho de Dilermando Cruz – apesar de ter sido vereador, prefeito e deputado por Juiz de Fora, há muito pouco sobre Dilermando Cruz Filho disponível na internet, sendo que dados de sua genealogia não são mencionados.
Então, para que os leitores deste modesto texto não se percam na mesma dúvida, nosso Dilermando é outro, embora não menos interessante.
Dilermando Cruz foi um leopoldinense de nascimento, mais exatamente no ano de 1879.Foi jornalista e político ativo da Zona da Mata. No ano de 1911 foi candidato a Deputado Estadual, para as eleições daquele ano. Fundou e dirigiu, em Leopoldina o Jornal Folha do Leste, que circulou na cidade durante dois anos – possivelmente na virada do século XIX para o XX - e sobre o qual eu não tinha conhecimento da existência, até então. Nos primeiros anos do século XX, Dilermando teve que se mudar para Juiz de Fora por motivos de saúde na família. Lá ele fundou o jornal o Correio da Tarde, em 1906, do qual foi proprietário e diretor.
Neste jornal, logo no segundo número, o filho distante dava uma prova de que não esquecera nem a sua terra, nem os seus amigos, e, para tanto demonstrar, escrevia a respeito de Leopoldina, chamando a atenção do governo para beneficiar a sua terra, removendo uns tanto estorvos que impediam a marcha do progresso leopoldinenses[1].
Como político, Dilermando pertencia a um dos blocos políticos mais fortes de Minas Gerais, o dos silvianistas, liderado por Wenceslau Braz[2] - e por Júlio Bueno Brandão, com fortes articulações com a Zona da Mata.
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Venceslau_Br%C3%A1s_(retrato_oval).jpg
Inicialmente, os doze idealizadores capitaneados por Machado Sobrinho e integrados por intelectuais do naipe de Belmiro Braga, Dilermando Cruz, Amanajós de Araújo e outros expoentes das letras, elegeram mais dezoito intelectuais espalhados por todo o Estado e representativos do que de melhor existia entre a elite acadêmica de Minas Gerais.
Em 1915, acordaram os membros da Academia Mineira de Letras a transferência da sede da Academia para a Capital do Estado.Dilermando ocupava a cadeira número 15, cujo patrono era ninguém menos do que Bernardo Guimarães (1827-1884), até o ano de sua morte, em 1935. Atualmente a cadeira é ocupada por Bonifácio José Tamm Andrada.[3] Sua obra de maior destaque foi a Biografia de de Bernardo Guimarães, de 1911. [4]
Se este texto terá algum impacto sobre o leitor, não posso fazer qualquer afirmação. Mas sobre quem o escreveu deixou uma série de perguntas que pedem respostas. Não sou um fã de biografias, mas acredito que saber sobre quem caminhou entre nós e o que fez por nossa cidade pode ser muito enriquecedor.
Entristece-me profundamente não saber mais sobre esta figura importante para Minas, que deu seus primeiros passos em Leopoldina e que deixou marcas em nossa cultura. Assim, se algum leitor tiver alguma informação que possa ser aqui acrescentada, peço que entre em contato, pelo e-mail nogueira.natania@gmail.com , para que estas breves páginas possam ser transformadas em um capítulo a mais da nossa história.
[1]LEÃO, Arthur. Dilermando Cruz. O Novo Movimento, n 34, 9 de março de 1911, p. 02.
[2] Wenceslau Brás foi presidente do Brasil (15/11/1914 - 15/11/1918), e seu governo foi caracterizado por grande austeridade financeira, foi promulgado o Código Civil Brasileiro e encerrada a Guerra Sertaneja do Contestado, no sul do país. Em 1917, o Brasil rompeu relações diplomáticas com o Império Alemão e, em seguida, declarou-lhe guerra.(Wencelau Brás. Disponível em http://www.republicaonline.org.br/RepOnlineNAV/navegacao/presidencias/presidencias.asp?op=busca&secao=pres&cod=9, acesso em 26/04/2009.
[3] Academia Mineira de Letras. Disponível em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/04/academia-mineira-de-letras.html, acesso em 26/04/2009.
[4] Dilermano Cruz -- "Bernardo Guimarães", 1ª edição, Casa Azul, Editora S. Costa & Cia, Juiz de Fora, 1911 A 2ª edição, foi publica pela Imprensa Oficial de Minas Gerais, em 1914, e nela foi acrescentada do drama "A Voz do Pajé", na íntegra. Esta peça, segundo Carlos José dos Santos, foi inspirado no Natchez, de Chateaubriand. (GUIMARÃES, Armelim. No "Atualidades", do Rio. Disponpivel em: http://www.geocities.com/athens/olympus/3583/atual.htm acesso em 25/04/2009.
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