terça-feira, 3 de junho de 2008

Ginásio Leopoldinense: 102 anos

Hoje a Escola Estadual Professor Botelho Reis, antigo Ginásio Leopoldinense, completa 102 anos. Fundado em 03 de junho do ano de 1906 pelo Dr. José Monteiro Ribeiro Junqueira, o Ginásio Leopoldinense inaugurou um novo período de desenvolvimento em Leopoldina. Ele assumiu espaço dentro do sistema escolar de forma centralizadora, atraindo para si uma clientela seleta, em busca de formação.

Ele eclipsou os demais estabelecimentos locais, de forma que, a partir do final da década de 1910, a expansão do ensino particular em Leopoldina sofreu uma brusca desaceleração. O Ginásio estabeleceu um verdadeiro monopólio sobre o ensino particular em Leopoldina, pois passou a oferecer todos os tipos de cursos, desde o primário ao ensino superior, atendendo a ambos os sexos.

Por outro lado, apesar do aparente êxito, a escola iria encontrar dificuldades em manter o nível do ensino. A falta de professores, o custo com a manutenção da escola, assim como a concorrência por parte de escolas tradicionais, de outras regiões e da própria Zona da Mata concorreriam para o fechamento de alguns de seus cursos e, mais tarde, a venda do estabelecimento, em 1946, para o Bispo Diocesano D. Delfim Ribeiro Guedes. Por outro lado, enquanto funcionou em sua capacidade máxima, a escola serviu a muitos propósitos, alguns deles ultrapassando os limites meramente pedagógicos.

O Ginásio Leopoldinense atuou como organizador de uma sociedade, onde os valores de elite precisavam ser adaptados a um novo mundo. O mito no qual se origina - na medida em que foi concebido como símbolo sobre o qual este mesmo mito político teria uma de suas bases de sustentação - apresenta-se como um paradoxo político dentro de um Brasil que em si estava recheado de contradições.

Com base em um ideário ao mesmo tempo liberal e conservador, Ribeiro Junqueira construiu, junto com o Ginásio, uma possibilidade de agir sobre o pensamento imaginário regional a ponto de criar um símbolo que, talvez, tenha superado todas as suas expectativas. Ao mesmo tempo em que foi criado para atender às elites ele também atendeu às necessidades da cidade, dando-lhe a impressão de progresso e de prosperidade que tanto temia perder.

Na década de 30, ele já não possuía a mesma diversidade e o mesmo teor que lhe foi marcante até 1926. A Escola Normal e a Faculdade de Farmácia e Odontologia, assim como o Ensino Agrícola não mais existiam. No entanto, O Ginásio Leopoldinense foi referência regional ainda por muitas décadas, mesmo quando encontrava-se em período de decadência. O símbolo resistia enquanto preenchia um espaço dentro do imaginário regional.

Sobre o Ginásio, a Gazeta de Leopoldina escreveu:


“De parceria com o seu illustre irmão Dr. Custódio Junqueira, fundou o Dr. José Monteiro Ribeiro Junqueira, em 3 de junho de 1906, o Gymnasio Leopoldinense, do qual é, ainda hoje, um dos directores geraes.

Ao tempo dessa grande iniciativa, recebida entre aplausos entusiasticos da população de Leopoldina, prever não se podiam vantagens pecunianas decorrestes do exito da mesma. Ao contrario, o Gymnasio Leopoldinense, por occasião da sua instalação, já em predio proprio, adquirido e adaptdo para tal fim, representava tão sómente uma obra de pura benemerencia.

O benemerito leopoldinense Dr. José Monteiro Ribeiro Junqueira, cujo real interesse pela grandeza e progresso da terra que lhe foi berço havia se affirmado já por elevantados commettimentos, levados a effeito com ingente esforço, realizou mais essa estapa brillantissima, impulsionando por sadio patriotismo, visando, principalmente facilitar a educação da mocidade, esse magnifico viveiro de futuros cidadãos, aos quaes, por uma successão logica e natural das cousas, serão confiados, amanhã, os destinos gloriosos da Patria.

Residia em Leopoldina, então, bom nucleo de homens intelligntes e de solido preparo. Ser-lhe-ia facil congreal-os sob a égide do mandamento de Christo - ite et docete omnes gentes -, interessando-os na grande obra projetada.

(...)

Propulsor maximo do desenvolvimento desse pedaço do torrão mineiro, que muito o quer, que muito o estremece, o dr. Ribeiro Junqueira tornou-se, de há muito, uma individualidade de destacado relevoentre os grandes brasileiros e os maiores servidores da Patria. E melhor estalão não podiamos ter para cortejar o seu extraordinario valor moral, do que esse monumento do saber, que é o Gymnasio Leopoldinense, sua creação, producto do seu amor á santa causa do ensino.”[1]


[1] REIS, José Botelho (dir.) Ementário do Ginásio Leopoldinense. Leopoldina, 1925, p. IV-V.

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