quarta-feira, 14 de outubro de 2020

HISTÓRIA DA ARTE POR MEIO DOS QUADRINHOS: OS GUARDIÕES DO LOUVRE


Recentemente eu li o mangá "Guardiões do Louvre", de Jiro Taniguchi (1947-2017). Não sou leitora de mangás. Na verdade, meu interesse pela cultura do leste asiático é bem recente, embora eu tenha assistido a muitos animés na minha juventude. Eu comecei com quadrinhos estadunidenses e nacionais, passei para os europeus e agora estou me interessando pelos quadrinhos asiáticos, de um modo geral.

“Guardiões do Louvre” é o tipo de HQ indicada para o público adulto e um público que tem algum conhecimento sobre história e arte, nem que seja o mínimo. Eu vou classifica-lo aqui como uma obra de História da Arte em quadrinhos, com uma narrativa que mistura ficção/fantasia com história. O cenário, Paris. O protagonista, um mangaká, ou seria o Museu do Louve?

“Guardiões do Louvre” se passa nos corredores do Museu do Louvre um dos mais importantes do mundo, com uma coleção tão vasta que se o visitante for parar para apreciar obra por obra, relíquia por relíquia, precisaria de meses para completar a visita, e ainda correndo o risco de deixar algo de fora. Não é meu museu preferido (já visitei muitos museus, então posso me dar ao luxo de ter um preferido) mas está entre os mais memoráveis (três vezes por sinal) e que pretendo retornar em breve, ainda mais depois de ler essa HQ, que literalmente dá uma alma ao Louvre.

Por onde começo? A história narra a viagem de um quadrinista a Paris, França. Ele visita o Museu do Louvre e é agraciado com uma guia muito especial: Nice, a Vitória de Samotrácia. Ela é uma das “guardiãs” do palácio do Louvre que, segundo suas palavras “é um labirinto do sonho. Um lugar que existe entre os sonhos e a realidade” (p.27).

Cada objeto que foi levado para o Louvre teria, segundo a explicação de Nice, uma alma. E eram essas almas que guardavam o museu e testemunharam as mudanças pelas quais ele passou. Uma verdadeira história dos objetos e da memória que eles carregam. O Louvre é, por excelência, um lugar de memória, não apenas por ser um museu, mas por toda a sua trajetória enquanto parte da cultura material francesa. E sua história também está inserida na narrativa.


Transportado por uma dimensão que fica entre o sonho a realidade, o protagonista é apresentado a vários gênios da arte mundial, e vai nos introduzindo na história da vida e da arte de nomes como Jean Baptiste Camille Corot (1796-1875), paisagista; Chu Asai (1856-1907), pintor japonês; Antônio Fontanesi (1818-1882), paisagista italiano e, meu preferido, Vicente Van Gogh (1853-1890). O traço e a paisagem são belíssimos. Uma pessoa que nunca esteve nos lugares retratados poderia reconhece-los facilmente, tendo por base o desenho de Jiro Taniguchi. Quem já foi ao Louvre, pode reconhecer os espaços que foram transpostos para o papel.

Guardiões do Louvre é, ao mesmo tempo, uma obra de fantasia, uma obra de história da arte, um local de memória e uma obra de arte na forma de quadrinhos. Esse mangá me fez perceber que ir a museu e conhecer o museu são coisas diferentes. Turista nem sempre tem tempo ou paciência de mergulhar numa obra, analisar uma relíquia e pensar sobre ela. Ele tem um cronograma e está sempre com pressa. Por isso, ir ao Louvre requer tempo e paciência, assim como ir a qualquer outro museu. Fica a lição que a HQ deixa para nós, que gostamos mas nem sempre sabemos apreciar o espaço museológico.

Por fim, eu poderia escrever páginas sobre cada impressão que teve ao longo da leitura (que fiz questão que fosse lenta justamente para apreciar melhor). Mas vou encerrar por aqui, recomendando a quem queira e possa adquirir. Aliás, e edição é muito bonita e luxuosa, não deixando nada a desejar aos álbuns produzidos na França e vale cada centavo.

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