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Maria Felipa de Oliveira - Heroína da Independência. Imagem capturada em: https://br.pinterest.com/pin/363806476147652941/?lp=true |
Paulo Freire
já dizia que a educação sozinha não transforma a sociedade, mas sem ela a
sociedade não tem como mudar. Se o conhecimento é um caminho para a mudança, em
que direção deveremos trilhá-lo? Como estamos educando nossos meninos e meninas
e qual a direção que esta educação deve tomar?
Neste dia
Internacional de Mulher, de 2020, e não apenas nele, devemos refletir sobre a
educação como formação do indivíduo que trilha o caminho da tolerância e da
justiça. Por isso, dedico esta postagem às mulheres guerreiras do presente e do
passado, homenageando-as na forma de uma breve narrativa da história de Maria
Felipa de Oliveira, personagem que não figura nos livros didáticos, mas cujo
exemplo serve para inspirar aquelas mulheres que, todos os dias, são testadas em seus limites.
As mulheres por muito tempo passaram pela história como vítimas, como seres incapazes de se defender, como pessoas lamentáveis. Mas e aquelas que reagiram? Aquelas que enfrentaram os agressores? Aquelas que lideraram outras mulheres e outros homens em batalhas que podemos descrever como épicas?
Dizer que não
há guerra que as mulheres não tenham lutado pode parecer exagero, mas não está
tão longe assim da realidade. Ao longo da história, as narrativas sobre as guerras foram monopólio
dos homens. Mas as mulheres lutaram,
em diversos momentos, seja defendendo seus lares e filhos, seja na frente de
batalha com armas em punho.
Das mulheres pré-históricas às espartanas, passando por aquelas que mulheres que
ajudaram a defender as muralhas de castelos e cidades na Idade Média. Das
índias americanas, das africanas, das indianas, chinesas, coreanas, inglesas,
francesas, russas, mulheres de todas as nacionalidades que, em algum momento,
reuniram coragem para enfrentar, armadas ou não, o perigo. Todas elas lutaram ao lado dos homens ou até mesmo para salvar seus homens, maridos, filhos ou pais.
Se
mergulharmos na história, elas irão brotar, aos montes. Estas mulheres
esquecidas, mas cujas ações foram importantes para a construção do presente e,
cujo exemplo, espero que guie outras mulheres para o futuro. Uma dessas mulheres
foi Maria Felipa de Oliveira.
Maria Felipa
foi uma das heroínas das Guerras de Independência do Brasil, mas que, ao
contrário de Maria Quitéria, não é mencionada nos livros de história. Ela
ajudou a liderar e organizar o movimento de resistência na ilha de Itaparica,
na Bahia, entre os anos de 1822 e 1823. Provavelmente descendente de sudaneses, nasceu escrava e conquistou sua liberdade. Trabalhava como
marisqueira e era capoeirista[1].
Lutava para poder se defender, afinal, negra e mulher aprendeu bem cedo o que
era o preconceito e o sexismo.
Ela ficou conhecida como sendo a Heroína Negra
da Independência. Atuou tanto na
logística da guerra, organizando o envio de suprimentos para o Recôncavo
baiano, como também participou de várias batalhas, nas quais seu grupo, formado
por pessoas de diferentes origens étnicas e sociais, incendiavam embarcações
portuguesas e impediam o desembarque de tropas[2].
"Durante as
batalhas seu grupo ajudou a incendiar inúmeras embarcações: a Canhoneira Dez de
Fevereiro, em 1º de outubro de 1822, na praia de Manguinhos; a Barca
Constituição, em 12 de outubro de 1822, na Praia do Convento; em 7 de janeiro
de 1823, liderou aproximadamente 40 mulheres na defesa das praias. Armadas com
peixeiras e galhos de cansanção surravam os portugueses para depois atear fogo
aos barcos usando tochas feitas de palha de coco e chumbo".[3]
Sua liderança
na comunidade de Itaparica permaneceu mesmo após o final do conflito, assim como o registro e relato de seus feitos. a heroína também se
destacou como exemplo de resistência contra o preconceito racial, já nas
primeiras décadas do século XIX. Maria Felipa teve uma vida longa, tendo
falecido em 1873, já durante o governo
de D. Pedro II, cuja monarquia ela ajudou a instaurar, lutando nas guerras de
independência.
Para
registrar a história desta heroína, a historiadora Eny Kleyde Vasconcelos
Farias, depois de oito anos de pesquisa, publicou, em 2010, o livro "Maria
Felipa de Oliveira – Heroína da Independência da Bahia". Não menos importante
foi à iniciativa do professor Carlos Eduardo Gomes Nascimento (UFBA), que
desenvolveu com seus alunos do ensino fundamental um e-book com temática étnico-racial. O objetivo era de preservar a memória dos afrodescendentes baianos a partir da
história de Maria
Felipa de Oliveira.
"Nos
dias atuais, é importante que a história de Maria Felipa de Oliveira seja
redescoberta nas escolas para que as crianças compreendam que as pessoas negras
tiveram ativa e efetiva participação na construção da história do Brasil. A
memória das gerações mais antigas pode ser transmitida, recontada para as
próximas gerações e assim conservar essas experiências de vida e resistência
que foram invisibilizadas, como a de Maria Felipa de Oliveira"[4].
No
caso desta experiência, o professor não apenas realizou um belíssimo trabalho
de memória como, também, de construção de conhecimento histórico colocando os
alunos como protagonistas deste processo. Além disso, ele colocou em foco uma mulher, negra e corajosa, que certamente inspirou suas alunas e trouxe admiração a seus alunos. Esse, a meu ver, é um dos caminhos que a educação deve tomar. O caminho da tolerância, da igualdade e do reconhecimento justo dado a quem deixou sua marca na história e não deve nunca ser esquecida(o).
[1] LEVINO, José. Maria Felipa de Oliveira: Negra, pobre e
heroína (2012). Disponível em: <http://averdade.org.br/2012/09/maria-felipa-de-oliveira-negra-pobre-e-heroina/>. Acesso em: 8 mar. 2020.
[2]SANTOS, Lucas
Borges. Maria Felipa de Oliveira.
Resgate da Memória. n.º 02. Jul. 2014. Disponível em: < http://200.187.16.144:8080/jspui/bitstream/bv2julho/841/1/RM_n02_Maria%20Felipa.pdf>. Acesso
em 8 mar. 2020, p. 30
[3] Idem
[4] NASCIMENTO, Carlos Eduardo Gomes. Pensar o passado, narrar à história dos
afrodescendentes na Bahia: um e-book sobre Maria Felipa de Oliveira no Ensino
Fundamental.Revista Trama. Volume 15, número 35, 2019, p.
3-12 |. Disponível em: < http://e-revista.unioeste.br/index.php/trama/article/view/21503>. Acesso
em: 8 mar. 2020, p. 9.
Um comentário:
Obrigada por partilhar seu conhecimento! Eu não tinha conhecimento algum sobre esta notável heroína Brasileira.
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