sábado, 16 de novembro de 2024

PROFESSORES DEVEM TER DIREITO À FORMAÇÃO RESPEITADO

Quero fazer um elogio para fazer uma crítica.

Nos mais de 26 anos que eu trabalho nas escolas municipais de Leopoldina, nunca tive negado meu pedido de fazer cursos e congressos, fora e dentro da cidade. Seja as secretárias de educação com as quais trabalhei ao longo destes anos, seja as diretoras. Todas sempre me ajudaram, permitindo que eu colocasse uma substituta ou mesmo pagando hora extra para uma professora. Quando eu organizo cursos para professores da rede, nunca tive a sala/auditório vazio.

Mas não é assim em todos os lugares. Semana passada eu estava na coordenação de um encontro em uma universidade estadual. Tivemos dois cursos para professores, gratuitos, muitas inscrições mas um comparecimento baixíssimo. E quem compareceu estava "fugido da escola". O curso fui oferecido a quem quisesse fazer, mas os professores não foram liberados. Olha, é como oferecer uma refeição e não permitir que a pessoa coma.

Como eu disse, um elogio e uma crítica.

Do que adianta dizer que deve-se investir na formação dos docentes mas quando se oferece oportunidade de formação eles não podem fazer? Ah, podem, se levarem falta no trabalho. Cursos grátis, com professores de grandes universidades que teriam cobrando muito caro (ou pelo menos deveriam), para oferecer seus serviços às secretarias de educação.

Infelizmente, não é um caso isolado. Tenho assistido isso acontecer ao longo dos anos em todo o Brasil. E isso me desmotiva muito, ver os/as colegas privados de oportunidades que, na prática são importantes até para impulsionar a educação brasileira e valorar o profissional do ensino.

A lógica que eu vejo aqui é que professor que está fora de sala aprimorando seus conhecimentos e aprendendo mais para levar esse aprendizado para sua prática diária ESTÁ SENDO INSUBORDINADO, porque por um dia ou dois saiu da sala de aula para estudar.

domingo, 13 de outubro de 2024

COMENTANDO THE DOBLE (墨雨云间)

Faz um bom tempo que eu não posto nada sobre as séries orientais que eu assisto. Um pouco pela falta de tempo, que me faz priorizar outras coisas, mas, principalmente porque nada havia até agora me impressionado ao ponto de eu querer escrever algumas palavras. Até que assisti The Double (墨雨云) ou Peões do amor, um drama chinês, no Netflix. O termo "peão" utilizado no drama se refere à uma peça de xadrez, que equivale a um soldado. O peão é usado e descartado de acordo com a estratégia do jogador.

Dos dramas orientais, os chineses não estão, normalmente, no primeiro lugar das minhas escolhas. Mas este ano percebi que foram eles que prenderam mais a minha atenção do que os coreanos. E eu fiz questão de assistir em etapas, para não correr o risco de perder uma só cena. Foram 40 capítulos tão bem aproveitados que poderiam ter sido 80 que eu não reclamaria.

O drama é baseado no romance de nome Marriage of Di Daughter  (O casamento da filha e Di), de Qian Shan Cha Kee, e  conta a história de Xue Li, a filha do Magistrado Xue, que foi traída e enterrada viva por seu  marido, Shen Yurong. Mas o destino lhe dá uma segunda chance quando ela é  salva por Jiang Li, a filha do Secretariado Chefe do reino, enviada para uma casa de recolhimento (uma espécie de convento) nas montanhas, ainda menina, acusada pela madrasta por um crime que não havia cometido. Por conta dos maus tratos que sofria, Jiang Li falece e seguida, mas antes de morrer ela pede a Xue Li para se vingar por ela. Xue Li assume a identidade de Jiang Li e usando sua inteligência privilegiada, vai para a capital para buscar vingança contra aqueles que causaram o sofrimento dela e de Jiang Li. 

The Doble é um drama muito complexo, com uma narrativa muito densa, e que está longe de ser uma trama de romance superficial. É uma história que gira em torno de crime e vingança. Da busca por reparação. A história tem personagens que foram minuciosamente construídos dentro de um enredo que envolve traumas psicológicos e muita conspiração e luta pelo poder, numa teia de relações palacianas. Entre as relações de poder presentes na trama temos também relações de gênero.

A violência contra as mulheres está presente a todo momento. Elas são vítimas do patriarcado, usadas e desacatadas por seus maridos, pais e irmãos. Elas sofrem violência física e moral. Mas elas revidam, cada uma a sua maneira. Entre vilãs e mocinhas, todas têm em comum o fato de terem sido usadas como "peões" pelos homens, e tentado sobreviver da forma como suas mentes abaladas e traumatizadas conseguiram. Umas respondem à injustiça buscando denunciar e exigindo punição. Outras respondem a opressão sofrida se tornando elas próprias opressoras. São essas mulheres que o tempo todo ditam o ritmo da narrativa.

Podemos destacar a protagonista, Xue Li/Jiang Li, interpretada pela atriz Wu Jinyan. Inteligente, sensata, ela havia se sacrificado pelo marido, Shen Yurong, homem de origem humilde, que desejava ascender na corte. Traída e abandoada, ela deixa de lado o papel de esposa submissa, que suportava os maus tratos da sogra e da cunhada e dá a volta por cima. Na busca por reparação para ela e sua salvadora, então falecida, a jovem acaba se envolvendo com o nobre Duque Su, Xiao Heng , interpretado pelo jovem ator Wang Xingyue. Ambos dão um show de interpretação. Cabe destacar que a atriz Wu Jinyan chegou a ser vítima de etarismo ( termo que se refere à discriminação, preconceito e estereótipos direcionados a pessoas com base na sua idade. Também é conhecido como idadismo ou ageísmo) por ter como par romântico um ator de 22 anos, quando ela possuía 34 anos.

As antagonistas também são excelentes, com destaque para a princesa Wan Ning, interpretada por Li Meng. Dada como refém a um reino inimigo, a princesa Wan Ning passou por uma série de abusos físicos e morais que a levaram a buscar a reparação por meio da violência e opressão. Psicologicamente afetada pelos anos de cárcere, é uma mulher cuja dor e o sofrimento são incompreendidos por quem a cerca. A atriz Li Meng teve uma atuação maravilhosa na trama. Ela consegue atrair a antipatia do público e, à mediada que sua história vai sendo revelada, não há como não sentir empatia por uma mulher que passou por tantos percalços, sempre usada pelos homens.

Não gosto de dar spoilers, então encerro dizendo que além de uma história envolvente, The Doble é também uma produção que esmera pela fotografia, pela trilha sonora e pelo figurino, impecáveis. Recomendo assistir.


domingo, 22 de setembro de 2024

SEGUNDO VOLUME DE INTRODUÇÃO À HISTÓRIA LOCAL JÁ ESTÁ DISPONÍVEL

Capa de Guilherme Smee

Finalizamos o segundo volume da série sobre História de Leopoldina, que vai contar com três volumes. Neste segundo volume, faremos um aprofundamento no estudo da História de Leopoldina e da nossa região. Serão apresentados uma sorte maior de dados e informações colhidas a partir de pesquisas realizadas em diversas fontes que nos ajudam a compreender melhor aspectos da História de Leopoldina que estão interligados à História de Minas Gerais e do Brasil. Alguns dos dados são, inclusive, inéditos, pois foram resultado de pesquisas realizadas pelas autoras, mas não publicadas.

O foco neste segundo volume está no desenvolvimento da economia e nas relações de trabalho em Leopoldina (MG). Vamos começar analisando o desenvolvimento da economia cafeeira no Brasil e sua chegada em Minas Gerais. O café teve uma importância muito grande para a economia local, ainda durante o Império, e foi a base da nossa economia durante a Primeira República. Neste capítulo, traremos informações sobre como era a dinâmica da economia local, assim como iremos falar das fazendas de café, localizadas nos distritos.

O volume II de Introdução à História Local pode ser acessado gratuitamente clicando aqui!

domingo, 19 de maio de 2024

COLÉGIO IMACULADA CONCEIÇÃO: FORMAÇÃO DOCENTE E MEMÓRIA

Ontem, no Dia Nacional do Museu, durante a 22º Semana Nacional do Museu, no Espaço dos Anjos, eu fiz o lançamento do meu livro "Colégio Imaculada Conceição: formação docente e memória". O evento é o primeiro de muitos lançamentos que ainda vamos realizar até o segundo semestre deste ano. 

O livro é uma produção independente e nasceu do desejo de escrever sobre a história do Colégio Imaculada Conceição, de Leopoldina (MG), que este ano completou 106 anos de existência. Foi, também uma forma de eu retornar àquilo que marcou o início da minha vida como pesquisadora, a História do Ensino e, também, a história Regional.

Eu já havia escrito um livro, na década de 2010, sobre o Ginásio Leopoldinense, outra escola centenária de Leopoldina. Foi minha primeira obra autoral e resultado da minha especialização, realizada entre 1996 e 1997 na UFJF. Eu sempre gostei muito de história regional, assim como gosto muito de história das mulheres. 

Eu me sinto muito confortável trabalhando estes dois temas. Confesso que eles me dão uma sensação de auto realização. Falar sobre minha região faz com que eu reforce meu sentimento de pertencimento, falar sobre mulheres faz com que eu me sinta mais confiante.

Com este livro eu tive a oportunidade de fazer as duas coisas. Eu escrevi sobre o ensino para mulheres em Minas Gerais e em Leopoldina, e pude falar bastante da nossa história local. Mesmo sendo um livro voltado para o caso de Leopoldina, ele pode ser usado como uma referência para o estudo da história do ensino em Minas Gerais, uma vez que eu busquei vincular o nosso contexto local com a história de Minas e do Brasil.

Enfim, estou muito feliz com o resultado e espero que todos aqueles e aquelas que compareceram ao lançamento ontem possam ter uma leitura agradável. Tenho que agradecer muito às pessoas que me apoiaram na elaboração da obra, seja lendo e dando sugestões, seja fazendo a correção ortográfica e a diagramação. 

Agradecimentos especiais a Guilherme Smee (que fez a arte da capa), Ana Cristina Fajardo e Luiz de Melo (que fizeram a correção ortográfica) e Conceição Zambrano, diretora do Colégio Imaculada, que me deu acesso à documentação para a pesquisa e possibilitou que o livro fosse lançado neste dia 18 de maio, de 2024, uma data que vou guardar dentro do coração.

Pessoas que quiserem obter o livro e não são de Leopoldina, podem fazê-lo entrando em contato pelo e-mail nogueira.natania@gmail.com


terça-feira, 14 de maio de 2024

QUADRINHOS FEMINISTAS OU QUADRINHOS PARA MULHERES?


Recentemente foi lançado livro "Interfaces Midiáticas e Quadrinhos", organizado por Rafael Senra e Ivan Carlo Andrade de Oliveira. O livro sai como uma co-edição da Editora da Unifap com a Editora Verter, e reúne artigos de autores que apresentaram na quarta edição do Evento ASPAS Norte. Um destes artigos é "Quadrinhos feministas ou quadrinhos para mulheres" um texto que eu produzi a partir de uma apresentação que realizei durante o ASPAS Norte.

No artigo eu analiso diversos tipos de HQs produzidas por mulheres e para mulheres buscando entender como este material pode ser apropriado por leitores e leitoras, buscando levar em consideração o contexto no qual foi produzido e o objetivo da produção.

Quem quiser conferir, o livro pode ser acessado gratuitamente, clicando aqui.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

COMO ENCONTRAR FONTES NA INTERNET PARA AULAS DE HISTÓRIA

Com o advento da internet as aulas e história começaram a mudar, também. Até o final do século XX o professor contava apenas com recursos como livro didático e alguns paradidáticos para poder trabalhar. Em escolas menores e de periferia acesso a livros e a uma bilbioteca era limitado, isso quando não era inviável (e até hoje permanecesse assim em muitas cidades). Havia a possibilidade do uso de jornais e revistas quando se tratava de conteúdo mais recente ou quando se publicavam especiais sobre eventos históricos. O/a professor/a recortava as notícias e as utilizava em sala de aula. No entanto, as fontes mais antigas ficavam em bibliotecas e arquivos muitas vezes longe do acesso de professores/as, principalmente daqueles/as que trabalhavam em cidades do interior.

Mas o século XXI trouxe novas possibilidades. Atualmente, no campo digital temos espaços destinados a ser repositórios de estudos (artigos, dissertações, teses) e de fontes diversas, de periódicos a fontes imagéticas, além de canais destinados a produzir conteúdo sobre história (sobre estes canais, presentes no Youtube, por exemplo, vou falar em outra postagem). As bibliotecas estão digitalizando seus acervos e criando hemerotecas digitais[1].

Atualmente é possível acessar informações, bancos de imagens e documentos de diversas partes do mundo e usá-los para montar aulas e atividades. O livro didático, na minha opinião, está se tornando um objeto de apoio secundário para professores e professoras que começaram a investir em produzir conteúdo a partir de fontes.

Nas hemerotecas e nos sites criados para abrigar documentos dos mais diversos é possível conseguir um rico material que pode ajudar a compor uma aula, complementar informações ou mesmo ser vir de base para projeto, inclusive projetos interdisciplinares. Recentemente eu li alguns artigos com relatos de experiências em sala de aula utilizando documentos como cartões postais e cartazes, retirados de repositórios de documentos.

Eu, por exemplo, frequentemente visito repositórios e hemerotecas. Encontro muito material interessante sem sites de bibliotecas universitárias, de bibliotecas nacionais e internacionais. Já tirei material para compro slides que preparei para minhas aulas com alunos do fundamental e médio e, inclusive, já usei a hemeroteca da Biblioteca Nacional para um projeto de pesquisa com alunos do oitavo ano do ensino fundamental, que resultou numa pequena publicação impressa, sobre a história local. E isso foi em 2014, há 10 anos atrás. De lá pra cá não apenas aumentaram as fontes como, também, a possibilidade de trabalhar diversos temas.

É trabalhoso, mas prazeroso, principalmente quando se domina as ferramentas de busca e gente aprende a localizar o material que precisamos. Até mesmo o idioma deixou de ser um problema, pois os navegadores têm ferramentas de tradução automática que permite o professor/a visitar e colher material em sites com idiomas estrangeiros. Eu já usei documentos retirados da Gallica, a hemeroteca digital da Biblioteca Nacional da França, do site da Biblioteca da Sorbone, da Hemeroteca de Lisboa e de sites de bibliotecas universitárias de outros países. É uma experiência de aprendizagem tanto para os estudantes quando para os/as docentes, pois permite que se saia do lugar comum.

Trabalhar povos indígenas a partir de documentos históricos colhidos de uma hemeroteca ou uma bilbioteca, analisar o imperialismo e as guerras mundiais por meio de imagens, acessar revistas e jornais publicados há mais de 100 anos e retirar deles documentos para serem analisados durante uma atividade em sala de aula ou mesmo uma avaliação. Há muitas possibilidades de incluir ao material didático já utilizado conteúdo inédito.

Eu particularmente acredito que o professor é o melhor material que a escola pode oferecer. Infelizmente ele/a precisa ser lembrado/a disso constantemente. Por isso muitas vezes ele acaba se acomodando e limitando sua aula ao livro didático. Assim como os estudantes, professores também precisam ser estimulados a tirar o melhor de si. Isso, inclusive é algo importante para a saúde mental dos docentes, prejudicada pela pressão sofrida diariamente nas escolas, pelo assédio de pais e de alunos, que parecem não entender os limites para o trabalho docente e nem sempre reconhecem seu valor. O sentimento de realização e descoberta pode ajudar a superar estes obstáculos, cada vez mais presentes no nosso dia a dia.

Vou deixar aqui algumas indicações de sites de bibliotecas e hemerotecas que podem ser úteis para quem quiser se aventurar e buscar novos materiais para trabalhar em sala de aula. Você professor que já está na docência há muitos anos e ainda não se arriscou a trabalhar com outros materiais, não é tão complicado assim. Aos professores mais jovens, creio que a experiência pode ser enriquecedora e estimular outras atividades e até projeto de iniciação científica. Vamos tentar?

Alemanha

- Biblioteca Nacional Alemã

Brasil

- Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

- Hemeroteca Digital Santista

- Hemeroteca Digital do IHGG

- Hemeroteca Digital Catarinense

- Biblioteca Digital do Estado de Minas

Canadá

- Biblioteca Pública de Toronto

- Fundação Japão Toronto

- Biblioteca de Quebec

China

- Biblioteca Nacional da China

Coreia do Sul

- Biblioteca Nacional da Coreia

Espanha

- Biblioteca Digital Hispânica

Estados Unidos

- Biblioteca do Congresso

- Biblioteca Digital de Minnisota

França

- Gallica – hemeroteca digital da Biblioteca Nacional da França

- Biblioteca da Universidade de Sorbonne

Japão

- Fundação Japão

- Biblioteca Nacional

Portugal

- Hemeroteca digital de Lisboa



[1] Hemeroteca é um setor das bibliotecas onde se encontram coleções de periódicos como jornais, revistas e outras obras editadas em série

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

PRÊMIO ARTEMÍSIA 2024 - RESULTADO ANUNCIADO

Saiu o resultado do Prêmio Artemisa, de 2024, criado há 17 anos para dar visibilidade ao trabalho de mulheres quadrinistas na França. O resultado é divulgado tradicionalmente no dia 9 de janeiro, data em que se comemora o nascimento de Simone de Beauvoir. 

Criado em 2007 por Chantal Montellier e Jeanne Puchol, o Prêmio Artemísia possui cinco categorias diferentes. O júri composto por Chantal Montellier , Isabelle Beaumenay-Chaland , Julie Scheibling , Patrick Gaumer , Pascal Guichard e Christophe Vilain , é acompanhado pelo presidente honorário Laurent Gervereau . O Grande Prêmio anterior de 2023 foi concedido a Valentine Cuny-Le Callet por Perpendicular ao Sol (Delcourt) .

As vencedoras de 2024:

  • Grand Prix Artémisia: Madones et putains (Madonas e Prostitutas) de Nine Antico (Dupuis)


  • Prêmio Artemisia Weed: Devenir de Joanna Folivéli (Futuro de Joanna Folivéli) (Dois Pontos)



  • Prêmio Artémisia Poésie-Mixte: Grande échappée (A Grande Fuga) de Bérengère Delaporte , variação gráfica em torno do poema La Panthère (A Pantera) de Rainer Maria Rilke (Nathan)

  • Prêmio Artémisia de Humor: Le grand incident (O grande incidente) de Zelba (edições Futuropolis / Louvre)


  • Prêmio Artémisia Survireuse: (Sultana) de Lili Sohn e Élodie Lascar (Steinkis)

  • A entrega dos prêmios vai acontecer no dia 17 de janeiro, no L'Espace des Femmes - Antoinnete Fouque, em Paris, França. Des Femmes é uma editora criada em 1973 por Antoinette Fouque com o objetivo de impulsionar a vida editorial, intelectual e cultural francesa, destacando a criação das mulheres. Antoinette Fouque foi uma psicanalista francesa envolvida no Movimento de Libertação das Mulheres. 

domingo, 7 de janeiro de 2024

MADELEINE, RESISTENTE E QUADRINHOS SOBRE A II GUERRA MUNDIAL

Minha primeira postagem do ano vai ser sobre uma HQ que eu comecei a ler justamente no dia 1º de janeiro, e com certo atraso, devo dizer. É a HQ "Madeleine, resistente: a rosa engatilhada". Trata-se de uma HQ criada a partir das memórias da poetisa e jornalista (correspondente de guerra) Madeleine Riffaud, uma jovem que, em 1942, aos 18 anos, e sofrendo de tuberculose, desafiou a ocupação nazista na França, lutando da resistência. Tinha tudo para dar errado, não é? Uma menina frágil e ainda por cima doente, disposta a encarar um dos momentos mais difíceis da história da humanidade. Mas olha, ela conseguiu, tanto que viveu para contar a sua história por meio dos quadrinhos.

Madeleine, resistente é uma série em quadrinhos que teve seu primeiro volume publicado no Brasil em 2023. Esta série é ressoldado de um trabalho conjunto entre Madeleine Riffaud, Dominique Bertail, Cartunista e colorista francês, e do roteirista francês Jean-David Morvan. É uma autobiografia, um registro histórico da vida de Riffaud que está fazendo muito sucesso em todo o mundo.

Madeleine Riffaud nasceu em 23 de agosto de 1924 é filha de professores. Ao se unir à resistência adotou o codinome "Rainer", em homenagem ao poeta alemão Rainer Maria Rilke. Ela participou das ações das “Forças do Interior Francesas” em várias operações contra as forças de ocupação nazistas. Em 23 de julho de 1944, ela ficou famosa pelo assassinato de um oficial alemão, em plena luz do dia. Presa e torturada ela foi liberada e retomou suas ações junto à resistência, até o final da guerra. Como jornalista, ela se envolveu na frente de descolonização, tendo presenciado, e relatado como jornalista, a guerra da Indochina, da Argélia e do Vietnã. Só por essa biografia resumida dá para ver que Madeleine Riffaud tem muita história para contar.

Eu tive contado com a HQ Madeleine, resistente, pela primeira vez, em janeiro de 2023, durante o 50º Festival de BD de Angoulême, na França. Sobre ela foi montada uma maravilhosa exposição sobre a HQ e a própria Madeleine. Foi uma das exposições que que mais gostei em todo o festival. Não apenas pela forma como a HQ foi exposta mas, principalmente, porque foi uma exposição montada a partir do ponto de vista da História. 





Mais do que promover a HQ a exposição, na minha interpretação, foi pedagógica, mostrando não apenas uma parte da guerra que poucos vivenciaram como, também, um exemplo de empoderamento feminino, a partir das experiências de Madeleine.

Posso dizer que conheci Madeleine Riffaud antes de ler a HQ e, por isso, eu acabei lendo e me interessado ainda mais pelo tema da resistência, que eu já havia trabalhando um tanto quanto superficialmente em outros momentos. Para quem gosta do assunto, a leitura desta HQ é mais que recomendada. O segundo volume deve sair agora em 2024, em português. Uma coisa que eu gostei muito foi a história “bônus” no final da HQ, que consta como o projeto começou, na forma de quadrinhos