Este site foi criado para que eu pudesse postar meus trabalhos sobre a História de Leopoldina, sobre História do Ensino e Educação. Com o tempo ele acabou se tornando muito mais do que isso. Hoje eu o uso para fazer reflexões sobre meu trabalho na escola, sobre minhas pesquisas com quadrinhos e sobre minhas opiniões sobre livros e filmes.
domingo, 23 de outubro de 2022
HELENA FONSECA NA PAPIERS NICKELÉS
domingo, 9 de outubro de 2022
CAPÍTULO SOBRE QUADRINHOS AUTIOBIOGRÁFICOS NO LIVRO " QUADRINHOS & CONEXÕES INTERMÍDIAS"
Convido a todos e todas conferir não apenas meu capítulo, mas a todos os capítulos dos dois livros. Há textos excelentes, para todos os gostos. Recomendo a leitura e o download dos livros, que são gratuitos, dentro do espírito da ASPAS de contribuir para a democratização e o acesso ao conhecimento. Para ter acesso aos dois volumes, assim como a outras publicações da ASPAS, basta clicar aqui! Segue um breve resumo do meu capítulo.
Os quadrinhos autobiográficos como forma de expressão para as mulheres
No texto iremos analisar o componente autobiográfico na produção de quadrinhos por mulheres, a partir da análise de obras de autoras como Anneli Furmark, Nicole Claveloux e Catia Ana Baldoíno. São quadrinhos que misturam elementos ficcionais com as experiências das autoras que, por meio de seus personagens, trazem suas auto-representações e utilizam os quadrinhos como recurso como um espaço para autoconhecimento e autoanálise. Partimos da ideia de que, ao utilizar suas experiências, essas mulheres quadrinistas transformaram seus quadrinhos em “lugares de fala”, nos quais podemos encontrar não apenas representações sociais, ideias políticas ou posicionamentos ideológicos, mas, também, experiências de vida a serem apropriadas e compartilhadas com seus leitores e leitoras. Podemos, também, por meio deles, adentrar ao ambiente privado, tão restrito e pouco documentado enquanto objeto de análise. Neste sentido, trataremos essa produção midiática como um produto da cultura material e uma fonte para se estudar a História das Mulheres, uma vez que esse componente autobiográfico, muitas vezes implícito em uma obra, nos ajuda a compor um quadro geral acerca de relações familiares e profissionais que envolvem mulheres comuns cujas memórias possivelmente não serão registradas nos anais da história. Como base teórica utilizamos a obra de Michelle Perrot e Roger Chartier.
domingo, 2 de outubro de 2022
A MULHER REI E A HISTÓRIA DAS MULHERES NA ÁFRICA
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Divulgação do filme - "A Mulher Rei". |
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Amazonas de Daomé |
O
filme é ambientado na África, no Reino de Daomé, atual Benin, um dos reinos
mais poderosos daquele continente entre os séculos XVI e XIX. Daomé permaneceu um
reino autônomo até 1904, quando o último rei foi destronado e os franceses o anexaram
ao seu império colonial, depois de muitos anos de guerra. A história gira em
torno das "Agodjié", também chamadas de Ahosi ou Mino,
uma tropa de elite formada por mulheres guerreiras a serviço do rei. O grupo é comandado por Nanisca, personagem
de Viola Davis, que além de defender o reino de tribos inimigas e de
colonizadores franceses ainda entoa um poderoso discurso contra a escravidão de
africanos e sua venda para traficantes europeus. As "Agodjié",
inclusive, inspiram as “Dora
Milaje”, mulheres da guarda real de Wakanda no filme “Pantera Negra”.
Essas
mulheres guerreiras realmente existiram e foram temidas tanto por africanos
quanto por europeus, estes últimos as chamavam de Amazonas, uma referência ao
mito grego. Segundo registros, o primeiro regimento de "Agodjié" foi formado durante o reinado de Tassi Hangbe, a primeira e única mulher que reinou em Daomé,
no século XVIII e, também, a primeira "Agodjié". Há também relatos
que afirmam que elas eram, originalmente, mulheres caçadoras. Essas guerreiras
bem treinadas atuavam na segurança da família real, como espiãs e em batalhas.
Elas eram moças recrutadas
entre o povo de Daomé ou oferecidas, quando meninas, pelas suas famílias ao
rei. Elas podiam ser também mulheres capturadas de outras tribos e
transformadas em cativas. A essas últimas era feita a oferta de servir ao rei como
mulheres livres. Isso aparece em uma passagem do filme. Quando uma mulher de
uma tribo inimiga é questionada sobre a razão que a leva a aceitar a oferta ela
responde algo como “Aqui vou ser o caçador e não a presa”. E não deviam ser
poucas que aceitavam pois dos escravos traficados do reino, a minoria era de
mulheres.
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Grupo de durante uma visita a Paris, 1891 - Fonte: https://www.historyvshollywood.com/reelfaces/woman-king/ |
Tornar-se uma "Agodjié"
dava às mulheres um novo papel dentro de uma sociedade dominada por homens.
Elas abriam mão do casamento e dos filhos e recebendo em troca o reconhecimento
e um status social que as colocava entre as pessoas mais respeitadas e admiradas
de Daomé. Os homens comuns não podiam encará-las, inclusive as temiam, e tinham
que abrir caminho quando elas passavam. Apesar de todos os riscos e do
treinamento intenso muitas mulheres escolhiam se tornar "Agodjié",
tanto que elas representavam cerca de um terço das topas de Daomé. Além disso,
as "Agodjié" tinha influência política e participação de decisões
importantes. Em muitos reinos africanos mulheres chegaram a assumir posições de
liderança ou mesmo certo status social, mas em Daomé as mulheres encontraram-se
em uma posição de empoderamento única, o que torna ainda mais interessante sua
história, contada no filme.
O Brasil tem uma ligação
com o reino de Daomé que começou com Portugal, durante as navegações. Os portugueses
estabeleceram relações econômicas e diplomáticas na região, tendo lá construído
uma feitoria no reino de Daomé, posteriormente transformada na Fortaleza
de São João Batista de Ajudá. De
lá vieram considerável parte dos escravos trazidos para a América. Daomé
enriqueceu com esse comércio, trocando prisioneiros de guerra por mercadorias
europeus. No entanto, como tempo, o próprio povo de Daomé acabou vendido como
escravo. Não atoa a região recebeu o nome de “Costa dos Escravos”. Daomé também
tinha relações diplomáticas com o Brasil, tendo sido o primeiro Estado a
reconhecer a nossa independência, em 1922, antes mesmo dos Estados Unidos, o
que ocorreu apenas em 26 de
maio de 1824.
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Fortaleza de São João Batista de Ajudá - 1886 - Fonte: wikipedia. |
Eu me emocionei no filme porque senti que pela
primeira vez vou ter um material realmente rico e empoderador para poder
utilizar na escola. Trabalho com muitos alunos afrodescendentes, “A Mulher Rei”
traz não apenas uma boa contextualização da história de um reino africano como,
também, de empoderamento feminino. Essas mulheres guerreiras, na sua
ferocidade, entoam um discurso libertário. Elas agarram a oportunidade e fogem
do papel de submissão representado pelo casamento, geralmente arranjado, no
qual não seria valorizada e estaria à mercê da violência. Assistam à “A Mulher
Rei”, independente do seu gênero e da sua cor, tenho certeza que vai ser uma
ótima experiência.
Fontes
consultadas:
Agudás - de africanos no Brasil a ‘brasileiros’ na África. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/hcsm/a/vtXQvFkGbHFSHQhs5BQv3rs/?lang=pt>. Acesso em 02 de out. 2022.
Amazonas de Daomé: as mulheres mais temidas do mundo. Disponível em: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-amazonas-daome-mulheres-temidas-mundo.phtml>. Acesso em 02 de out. 2022.
Amazonas: O exército feminino do Reino do Daomé. Disponpível em: https://www.dw.com/pt-002/amazonas-o-ex%C3%A9rcito-feminino-do-reino-do-daom%C3%A9/a-56823669.
Acesso em 02 de out. 2022.
JIF : Je vous Présente les Agodjié, Braves Amazones du Danhomè. Disponível em: <https://fafadi323701274.wordpress.com/2020/02/29/jif-je-vous-presente-les-agodjie-braves-amazones-du-danhome/>. Acesso em 02 de out. 2022.
Os guerreiros deste reino de África Ocidental eram formidáveis – e eram mulheres. Disponível em: <https://www.natgeo.pt/historia/2022/09/os-guerreiros-deste-reino-de-africa-ocidental-eram-formidaveis-e-eram-mulheres>. Acesso em 02 de out. 2022.
Reino do Daomé. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_do_Daom%C3%A9>. Acesso em 02 de out. 2022.
The Woman King (2022). Disponível em: <https://www.historyvshollywood.com/reelfaces/woman-king/>. Acesso em 02 de out. 2022.