terça-feira, 15 de outubro de 2019

A APROPRIAÇÃO DA LINGUAGEM DOS QUADRINHOS PELOS DORAMAS: W - ENTRE DOIS MUNDOS (더블유)

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Recentemente eu me converti a uma fã de doramas (séries dramáticas orientais), dos mais variados tipos. Sim, porque há muitos deles, em gêneros narrativos diversos. Eu tinha, a princípio, algum preconceito, que foi rapidamente superado quando assisti à primeira série, no Netflix. Posteriormente, percebi que os doramas iam muito além de romances e dramas. Há ótimas produções de fantasia, ficção científica, comédias, suspense e aventura. Também me surpreendi com a qualidade dos atores, dos mais jovens aos veteranos.

Além disso, tem sido uma experiência enriquecedora conhecer aspectos de outra cultura que é ao mesmo tempo distante e familiar. Do ponto de vista intelectual, também me sinto estimulada. Tenho notado a forma como os doramas se apropriam da linguagem dos quadrinhos e, em muitos casos, os trazem diretamente para dentro das tramas. Muitos são baseados em webtoons ou manhwa, forma como são chamadas as histórias em quadrinhos sul coreanas, que diferente dos mangás são lidos da forma ocidental (à esquerda para a direita).

É perceptível a influência dos quadrinhos nos k-dramas (doramas sul-coreanos). Creio, inclusive, que seja relativamente maior que a estadunidense, que tem investido proporcionalmente mais no cinema do que em séries, que em muitos casos pegam carona em filmes de sucesso. Nos últimos 10 anos, por exemplo, no caso da Marvel, as séries vieram como subproduto do sucesso dos filmes. Além disso, em sua grande maioria, são séries baseadas em quadrinhos de superaventura e ação, não variando muito para além destes dois gêneros. 

Doramas de aventura, romance e comédia regularmente utilizam da metalinguagem e/ou de códigos próprios do quadrinhos. Balões, requadros, metáforas visuais, onomatopeias etc. Um exemplo destes recursos, explorados ao máximo, talvez seja o K-Drama "W" (2016), em hangul "더블유", traduzido no Brasil como "W:Entre dois mundos". Mas já adianto, não é uma resenha, longe disso.

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A série se passa em "dois mundos" (como o título em português), o dito "real" e dos manhwa. Ao fazer isso ela não apenas vai trazer os quadrinhos para dentro da televisão, sem recorrer para aminação, como vai dialogar com eles. Daí entra a metalinguagem. Ao decorrer da série os próprios personagens vão analisando a lógica pela qual a narrativa dos quadrinhos de desenrola. São os quadrinhos (ou seus personagens) falando sobre sim mesmos.

O resultado é uma narrativa dinâmica que consegue se manter até o final de 16 episódios, que duram cerca de uma hora cada. Tanto a forma como os quadrinhos são inseridos como objeto e a forma com se cria todo um discurso narrativo em torno assumem uma forma de hibridismo cultural, conceito explorado por Peter Burke. No caso de "W", temos duas formas de narrativa sequencial que se unem em uma só, gerando um produto completamente novo.

Embora a linguagem televisiva  prevaleça ela fica atrelada à linguagem dos quadrinhos, o que é reforçado pelo uso da metalinguagem, do início ao fim da série. Claro, esta é uma análise bem superficial que pretendo desenvolver melhor no futuro. 

No que diz respeito à produção em si, temos um trabalho de boa qualidade, com uso de bons efeitos especiais e que aproveitou muito bem seus atores, dos protagonistas os atores Lee Jong-Suk (Kang Cheol) e Han Hyo-joo ( Oh Yeon-joo) aos coadjuvantes. Para quem ficou curioso, esta série está disponível no Rakuten Viki, gratuitamente (se você tiver paciência para os intervalos comerciais). 

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