segunda-feira, 21 de agosto de 2017

CORA CORALINA E O PODER DAS PALAVRAS

Imagem disponível em: https://www.blahcultural.com/biografia-de-autor-cora-coralina/,acesso em 20 ago. 2017.

No dia 20 de agosto comemorou-se o 128º centenário do nascimento de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, nome da poetisa Cora Coralina. Nome que ela tomou emprestado de uma mulher que conheceu. Achava-o melodioso ao ser pronunciado. 

Ela nasceu em Goiás, em meio a crise do império, no ano em que seria proclamada a república no Brasil, 1889. Cora não nasceu em um Brasil escravocrata mas foi prisioneira de uma sociedade androgênica e patriarcal, assim como tantas outros mulheres. 

Cora Coralina encontrou sua libertação na poesia. Poesia onde o eu feminino está sempre sente. Uma poesia que buscou aproximar todas as mulheres, mesmo aquelas que a sociedade estigmatizou. 

Mulher da vida

Mulher da Vida,
Minha irmã.
De todos os tempos.
De todos os povos.
De todas as latitudes.
Ela vem do fundo imemorial das idades
e carrega a carga pesada
dos mais torpes sinônimos,
apelidos e ápodos:
Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à toa.
Mulher da vida,
Minha irmã.

Cora era uma transgressora em vários sentidos. Fugiu para viver com um homem mais velho e divorciado, contrariando a família e a moral da sua época. Vendeu livros, trabalhou em jornais, fez doces e criou seis filhos após a viuvez. Ela tinha apenas o ensino primário e se tornou um dos maiores nomes da literatura do Brasil. 

Não era propriamente uma desconhecida do mundo literário. Chegou a ser convidada para participar da semana da  Arte Moderna, em 1922, mas seu marido não permitiu. Já idosa, sua obra foi apresentada ao grande público por ninguém menos do que Carlos Drummond Andrade, que sobre sua poesia disse:

"É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia."

O mesmo Carlos Drummond, mineiro de Itabira, que reconheceu o talento daquela senhora e que este ano foi homenageado pela FLIMINAS - Festa Literária de Minas Gerais -, que ocorreu entre os dias 17 e 20 de agosto,  na cidade de Rio Novo (MG), encerranda justamente no dia do nascimento de Cora Coralina.

E como não se encantar por aquilo eu nos faz sentir prazer, que nos faz descobri novos mundo e aflorar novas paixões? O mundo seria mais triste sem a poesia, sem a literatura, sem os quadrinhos. Tudo que nos faz sonhar e nos leva pra longe da realidade é o que, na verdade, nos fortalece para que possamos enfrentar os obstáculos do dia a dia. 

O poder da palavra é inegável. Dela se constroem os discursos, dela se edificam nações. Ela abre o mundo para as muitas "Coras", que se expressam através das letras. 

Ana Lins morreu em 10 de abril de 1985, mas Cora Coralina vai viver para sempre na memória da literatura brasileira.


2 comentários:

Jenny Horta disse...

Lindo texto, Natania! Parabéns.

Natania A S Nogueira disse...

Obrigada, Jenny!
:-)