domingo, 15 de maio de 2022

TRABALHAR II GUERRA MUNDIAL E ESCRAVIDÃO SEXUAL DE MULHERES USANDO SÉRIE DE TV

Estátuas memoriais, espalhadas por várias partes da Coreia do Sul, criadas para chamar atenção do governo e protestar contra o Japão. 

Um dos mais abomináveis crimes cometidos pelo Japão durante a II Guerra Mundial foi a escravidão e exploração sexual de mulheres em instalações criadas pelos japoneses, para servirem com bordeis para seus soldados. Esse sistema de exploração sexual baseado na criação de “estações ou casas de conforto” vitimou centenas de milhares de mulheres que ainda aguardam a reparação pelos danos físicos e psicológicos deixados pela experiência.

Foram criadas cerca de 400 “estações de conforto”, espalhadas pela China, Filipinas, Taiwan, Cingapura, Indonésia, Birmânia, Tailândia e Vietnã, sempre próximas às bases militares. Estima-se que cerca de 80 a 200 mil mulheres foram forçadas a prestar serviços sexuais a soldados japoneses durante a Segunda Guerra Mundial, sendo que apenas 30% delas sobreviveram. O maior número de mulheres era de origem coreana, cerca de 80% delas.

NHD Boulder Valley “Truth Be Told” por Eliana White

Esse horrendo crime de guerra permaneceu por décadas esquecido/omitido, uma vez que as vitimas, intimidadas pela sociedade, e por suas próprias famílias, permaneceram caladas. Só recentemente o tema emergiu graças ao depoimento de uma das vítimas, já idosa, assombrada pela dor das memórias de guerra e em busca de justiça. Qual justiça? O reconhecimento do crime e um pedido oficial de desculpas do Japão, que até hoje não aconteceu.

Eu conheci o tema por meio de uma HQ produzida pela sul-coereana Keum Suk Gendry-Kim, em 2017, e traduzida para diversos idiomas, como inglês e francês, e publicada no Brasil, em português, em 2020. O quadrinho , de nome “Grama”, baseia-se no depoimento de uma sobrevivente e em pesquisas realizadas pela autora (clique aqui se quiser saber mais). Para quem não sabe, a península da Coreia foi invadida e colonizada por japoneses no início do século XX e seu povo sujeito às mais diversas agruras.

O tema se tornou um dos meus favoritos, em termos de historiografia, e me fez interessar pela história de países do leste asiático, que pouco ou quase nada estudamos no Brasil, dada a nossa tradição eurocêntrica.  Por isso foi uma grata surpresa poder assistir um episódio, o de número 13, de Tomorrow (Amanhã), série do Netflix, abordado esse tema. 

Normalmente, eu me contento e comentar os aspectos gerais de uma série/drama, mas neste caso, chamo aqui a atenção para um capítulo específico. Isso porque no episódio 13, retirando a parte fantasiosa da série, temos uma reconstituição histórica da exploração dessas mulheres durante a II Guerra. A reconstituição baseia-se no relato de uma personagem fictícia, uma sobrevivente, idosa, que nos últimos momentos de sua vida ainda espera por reparação. A sobrevivente Jeong-mun, conta sua história e a de outras mulheres, e faz uma apelo à memória: não esqueçam. 

Cena de Tomorrow, episódio 13, mostrando as meninas sendo levadas para as estações de conforto por soldados japoneses.


Eu, particularmente, achei esse episódio precioso. Não apenas pelo tema que aborda mas, também, pela forma que o tema foi abordado. Com certeza eu irei utilizá-lo em sala de aula, uma vez que ele ilustra de forma clara e didática tanto a tragédia das Comfort Women como, também, a própria questão da memória e questões relacionadas a gênero. Além disso, proporciona apresentar aos alunos uma outra abordagem sobre a II Guerra, que vai para além dos conflitos ocorridos na Europa e da questão do próprio holocausto.

Eu, particularmente, pretendo introduzir o tema das Comfort Women quando for estudar II Guerra Mundial e usar esse episódio do Netflix como material de apoio. Em seguida pretendo trabalhar as noções de crime de guerra e falar sobre a escravidão sexual. Como forma de avaliação vou pedir para que façam uma história em quadrinhos sobre o tema, e aí vou usar Grama como exemplo e, também, material de apoio.

Esse episódio será exibido no Brasil no dia 21 de maio, no Netflix. Recomento para uso de professores de história e mesmo de outros conteúdos. Mesmo sendo um episódio de uma série que envolve um contexto maior, é possível usar essa parte do programa para fins didáticos sem problemas. Claro, recomendo ao professor/professora, fazer uma breve pesquisa sobre o assunto para poder melhor aproveitar esse material e enriquecer a aula.

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