Semana
passada, a quadrinista e escritora francesa Chantal Montellier lançou o livro “Dans
la tête de Gabriel Matzneff”, pela editora Les
Cahiers de l’Égaré, no qual se propõe a analisar a vida,a obra e o pensamento de Gabriel
Mastzneff, um romancista e poeta francês que aborda em suas obras temas polêmicos,
como a pedofilia.
Ah, mas eis o detalhe: ele defende a pedofilia em seus escritos
tendo, por vezes, declarado gostar dos "mais jovens" em entrevistas
que deu ao longo da sua carreira. O conteúdo dos seus livros (e foram muitos) foi baseado em suas aventuras sexuais com menores de idade. Apesar disso, ele
recebeu incentivo financeiro do Estado e até prêmios e críticas positivas à sua
obra.
Agora, aos 83 anos, ele está sendo investigado pelo Ministério Público francês por “violação de menor” depois
da publicação do livro “Le
Consentement”, da escritora
Vanessa Springora, que na obra conta como viveu uma relação amorosa com
Matzneff quando tinha dos 13 anos aos 14 anos de idade.
Para quem não conhece Chantal Montellier, ela é
ativista política e feminista. O tipo de pessoa que não corre de uma briga. Eu
não li ainda o livro, mas tenho expectativas a respeito dele a partir do que
conheço da obra de Chantal Montellier. Ela vai bater com força e vai dizer
coisas que muitas pessoas não querem ouvir. De fato, essa personalidade forte
da autora lhe trouxe muitos problemas no meio dos quadrinhos e, como ela mesmo
afirmou por diversas vezes, uma exclusão que não se justifica.
Mas é isso que eu gosto nela. Chantal tem muitos
inimigos, e não se deixa intimidar por eles. Ela expressa em seus livros e seus
quadrinhos a indignação que muitos de nós não têm coragem de admitir
publicamente. Imagino que durante décadas os leitores e editores de Gabriel
Mastzneff justificaram suas posições radicais como simples liberdade de expressão,
reforçando as ações de um predador sexual que agiu livremente sem temer qualquer punição. Acredito até que, muitos
deles, compartilham das opiniões do autor, caso contrário não leriam seus
livros.
O
processo contra Mastzneff, cujo julgamento foi marcado para 28 de setembro de 2021, e o próprio livro
de Chantal Montellier, abrem o debate acerca de quem realmente somos e de quem queremos
ser. De como as pessoas podem agir de forma omissa, de como a sociedade pode
ser hipócrita. Um balde de água fria sobre aqueles que levantam a bandeira do
moralismo mas que têm em sua cabeceira os livros de Gabriel Mastzneff.
Um comentário:
Brava pour Chantal Montpelier!
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