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Parque de Sabadell - por do sol. |
Em janeiro eu passei alguns dias na
cidade de Sabadell, na província de Barcelona, Catalunha, região autônoma
da Espanha, a convite de um amigo que mudou recentemente para lá. Sabadell é
uma cidade de porte médio, com cerca de 200 mil habitantes e foi uma das sedes
das Olimpíadas de 1992[1].
Ela fica cerca de 40 minutos de trem de Barcelona, saindo da Praça da
Catalunha.
Não é uma daquelas cidades antigas que
guardam resquícios da Idade Média. Na verdade, é uma cidade bem moderna, cuja
economia gira em torno do comércio e da indústria. Sabadell foi pioneira na Revolução Industrial Espanhola e, no
século XIX, chegou a ser apelidada de "Manchester catalã” [2]. Bem
próximo de onde fiquei hospedada há uma pracinha onde ainda de vê as chaminés
de uma antiga fábrica, possivelmente uma tecelagem, em meio a prédios modernos.
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Igreja de San Felix, originalmente uma capela construída no século XV e que foi passando por modificações até o século XX. Sua arquitetura é um misto de gótico e barroco - Centro de Sabadell. |
O que me causou
estranheza e, sinceramente, eu não consegui me adaptar, foram justamente os
horários de funcionamento do comércio. À tarde quase tudo fecha durante duas
horas (a famosa sesta - hora de descanso após o almoço), para reabrir mais
tarde. É realmente muito estranho, principalmente porque não dá para saber
exatamente o que vai estar aberto à tarde. Nisso, a Catalunha acompanha a Espanha.
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Loja de presunto ibérico ou presunto pata negra. Centro comercial de Sabadell |
Aliás, eu estava na Espanha ou não estava? Eis a questão.
Se eu fosse perguntar isso a um catalão certamente ele iria me dizer que não.
Uma das primeiras experiências que eu tive em Sabadell foi assistir a uma
sessão do Parlamento Catalão na televisão. Eu estava almoçando em um restaurante
e, enquanto meu pedido não vinha eu assisti os deputados discutindo sobre a
libertação de presos políticos. Vou ser bem sincera, aquilo me deixou
muito curiosa e intrigada e, ao longo da semana, eu fui colhendo informações e
observando as manifestações, muitas delas silenciosas, dos habitantes de
Sabadell.
Ao contrário de Barcelona, era possível
ver os sinais do movimento catalão a todo canto. Nas janelas dos edifícios
havia bandeiras da Catalunha. O símbolo da libertação catalã esta desenhado nas
calçadas, nos postes, nas escadas e era usado como ornamento nos casados das
mulheres e dos homens.
Podia-se ver mensagens escritas em
paredes, faixas pedindo a libertações de presos políticos e a libertação da
Catalunha. O sentimento separatista ali é muito forte e, pelo visto,
compartilhado pela maior parte da comunidade. Aliás, uma comunidade muito
acolhedora.
Uma das coisas que me emocionou, em
tempos tão obscuros quanto os que estamos vivendo, foi uma faixa colocada em um
prédio público (acho que da prefeitura, não tenho certeza agora), em que o povo
de Sabadell faz uma saudação aos refugiados. Sabadell se coloca de braços abertos
a acolher aqueles que não têm para onde ir.
Se eu fizesse uma lista das cidades
onde eu gostaria de morar, certamente Sabadell estaria no topo dela, seja
pela atitude positiva de seu povo, seja pelo sentimento de acolhimento que a
cidade me passou.
Falei muito do movimento Catalão, mas
não expliquei o que ele é. A região da Catalunha é uma província autônoma
que pertence à Espanha. Ela fica bem ao Sul da França. O povo catalão é um
grupo étnico que ocupa aquela região, que deseja se separar da Espanha e formar
uma nação independente. Eles têm, inclusive, seu próprio idioma e seu
parlamento[3].
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Fiquei arrepiada com a legenda: "Se há pão, não há guerra." |
O povo catalão teria ocupado a região
por volta do século XII e o território passou a fazer parte da Espanha no
século XVIII, após a guerra da Sucessão Espanhola (1702-1714). Uma região que
se destacava do restante da Espanha desde o início. A Catalunha foi uma das
primeiras regiões a se industrializar na Europa, seguindo o exemplo da
Inglaterra, numa época em que o restante da Espanha ainda era
majoritariamente agrícola.
A ocupação da região no século XVIII
nunca foi aceita pelo seu povo e a Catalunha se considera uma nação oprimida
pela Espanha, daí o desejo e independência. Os separatistas ainda alegam que
região, economicamente próspera, é explorada pela Espanha, pagando elevados
impostos e não recebendo de volta benefícios que correspondam às suas contribuições[4].
Assim, ir à província de Barcelona não
é necessariamente estar na Espanha. Povo, cultura, ideais políticos são muito
diferentes. Enquanto não conquista sua autonomia, a Catalunha trabalha para
manter viva sua identidade, e o faz muito bem. Mas, apesar de não ser difícil
se comunicar com o catalão, às vezes é um tanto confuso. Ao mesmo tempo, se
fala o espanhol com os turistas e o catalão com os nativos. Um pedacinho da
Torre de Babel da Europa, que reúne num território relativamente pequeno etnias
tão diversas.
[1]
Sabadell. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Sabadell>.
Acesso em: 14 fev. 2020.
[2]
Idem
[3] Movimentos
Separatistas da Catalunha. Mundo Educação. Disponível em: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/movimentos-separatistas-na-catalunha.htm>.
Acesso em: 14 fev. 2020.
[4]
Nacionalismo Catalão. Disponível em<https://pt.wikipedia.org/wiki/Nacionalismo_catal%C3%A3o>.
Acesso em: 14 fev. 2020.
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