sexta-feira, 27 de abril de 2018

A PRINCESA LEOPOLDINA ESTEVE REALMENTE EM LEOPOLDINA (MG)?

Princesa Dona Leopoldina (1864)
Fonte. Wikepédia
Esta semana eu fui convidada para fazer uma  pequena apresentação para os alunos do 2º ano do ensino fundamental sobre a História de Leopoldina (MG), afinal, estamos comemorando os 164 anos de emancipação do nosso município. 

Uma das perguntas que as crianças sempre fazem é se a Princesa  Dona Leopoldina Teresa Francisca Carolina Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon (1847-1871), filha caçula do Imperador D. Pedro II (neta da Imperatriz Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena, no Brasil Maria Leopoldina, a primeira esposa do imperador D. Pedro I e mãe de D. Pedro II), esteve em Leopoldina. 

A resposta para essa pergunta é não. 

Após a apresentação, uma mãe questionou isso novamente com uma das professoras, afirmando que a princesa veio sim, acompanhada de D. Pedro II, e que há fontes que comprovam isso. Chegou até a citar um memorialista famoso, que escreveu sobre a nossa cidade, para reforçar seus argumentos. Como eu tenho o livro, fui conferir e não encontrei nada. Assim como nunca esbarrei com nenhuma fonte bibliográfica ou documental que faça alusão a isso. 

Este tipo de situação acontece com frequência comigo e acredito que com professores do Ensino Fundamental, nos primeiros anos, mais anida. Resolvi apresentar, então, alguns fatos que vão ajudar os professores e professoras a responder a esta pergunta com facilidade e segurança.

No ano de 1854, por época da emancipação de Leopoldina (MG) e da elevação do arraial a vila, o novo município foi nomeado de Leopoldina para homenagear a princesinha, que naquela época tinha apenas sete anos de idade. Existe um história folclórica (passada de boca em boca) de que a princesa esteve aqui por época da emancipação e por isso o município levava seu nome.

Algo bem improvável, a começar por conta do acesso.  A ferrovia só começou a operar na nossa região em 1874. Até então a viagem da Corte (Rio de Janeiro) para Leopoldina (MG), era realizada de forma precária, por estrada. Além disso, qual seria a motivação para que Dom Pedro II submetesse sua filha caçula a uma longa viagem para uma localidade pouco conhecida e de povoamento recente? Eu não consigo encontrar nenhuma.

Por que da homenagem, então? A escolha do nome do município teve, provavelmente, motivações políticas. Nomear um recém criado município, no interior de Minas Gerais, com o nome da filha do Imperador dava à localidade  visibilidade na Corte, isso muito antes do município começar a se destacar com a produção de café. 

E aqui temos uma informação que talvez seja mais preciosa para os professores de Leopoldina. A Princesa Leopoldina, dez anos depois,  casou-se no dia 15 de dezembro de 1864 com Luís Augusto Maria Eudes de Saxe-Coburgo-Gota, Duque de Saxe e Coburgo, tendo partido do Brasil para  viver com o marido na Áustria, onde veio a falecer ainda muito jovem, em 1871. 

Muitos leopoldinenses afirmam categoricamente que a Princesa Leopoldina teria visitado o nosso município em 1881, juntamente com seu pai, Dom Pedro II, algo improvável pois, como vimos, a princesa já havia falecido há mais de uma década. Quem acompanhou o Imperador na viagem que fez durante 36 dias pelo interior de Minas Gerais foi a Imperatriz Dona Tereza Cristina. Citanto o memorialista Barroso Junior:

"(...) no dia 30 de abril, Leopoldina marcava nos seus faustos a visita altamente desvanecedora das Suas Majestades Imperiais D. Pedro II e D. Cristina que em sua pequena comitiva, concluíram naquela cidade, sua longa peregrinação pela província de Minas."
JUNIOR, Barroso. Leopoldina e seus primórdios. Leopoldina, 1943, p. 51.

Situações assim, acredito eu, reforçam a necessidade de se ensinar e estudar História Local nas escolas. Os professores precisam estar informados e instruídos sobre o tema para que possam ter mais segurança ao discorrerem sobre ele. E quando digo isso não estou de forma alguma desqualificando o trabalho docente, mas chamando a atenção para o fato de que há necessidade de investir na formação, na produção de material didático e na atualização dos nossos profissionais. 

Afinal, não se pode exigir dos nossos professores e professoras  um conhecimento ao qual eles e elas não se têm o devido acesso.

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