A memória está constantemente correndo risco de ser perdida ou relegada a uma mera lembrança de tempos que se distanciaram do presente, que é por natura efêmero. E quando digo memória, não estou me referindo apenas à memória secular ou milenar, refiro-me a memória recente, que vai se apagando de geração a geração. Das cantigas de roda, que foram esquecidas, das histórias do folclore, que não são mais contadas e mesmo das artes gráficas, como os quadrinhos e seus subprodutos, que vão se apagando, como uma cópia carbonada que o tempo perde a cor e se torna uma marca d'água em um papel amarelado.
Trabalho com os mais diversos tipos de documentos, às vezes não com a propriedade que eu gostaria, e tenho percebido uma tendência ao esquecimento e o fortalecimento da noção de que o arquivo ou o próprio museu são espaços meramente destinados ao depósito daquilo que não mais faz parte do cotidiano. Preservação por vezes se confunde com o simples armazenamento de uma material que não pode ser perdido mas que também não é usado. Não é usado porque não faz mais parte da memória coletiva, porque não se identifica com a "atualidade".
Em alguns momentos, em casos especiais, esses documentos - seja qual for sua natureza - são reeditados, readaptados, explorados, para depois serem novamente esquecidos. Ao fazer essa reflexão eu me pergunto o que provoca essa tendência ao esquecimento. Porque se interessa tão pouco pelo passado? Daí me vem a ideia de que não é a falta de interesse pelo passado que é responsável pela perda gradativa da memória, pelo seu encarceramento em depósitos ditos "oficiais", mas sim o fato de que não reconhecemos a importância da memória em si.
A curiosidade acerca do passado existe. Qual professor de história nunca se deparou com alunos curiosos acerca do cotidiano da Idade Média, da História da sua localidade, da História da sua família? Eu constantemente vivencio essa experiência, mesmo entre aqueles que dizem não gostar de história, mas de gostar de saber sobre as curiosidades do passado, recente ou longínquo.
Então, devo concluir que a memória se perde, a cada dia, a casa década, porque as pessoas não entendem o que ela é, o que ela significa e que só será possível seu resgate ao reafirmar sempre sua importância, ao se definir claramente seu papel na sociedade contemporânea, ao de fundamentar o bom uso que se pode fazer dela e, acima de tudo, direcionar o ensino de história não para o ensino de conteúdos apenas, mas na redescoberta da memória coletiva, regional e nacional.
* Atenção: este texto pode ser reproduzido livremente, desde que seja creditado o autor.
Trabalho com os mais diversos tipos de documentos, às vezes não com a propriedade que eu gostaria, e tenho percebido uma tendência ao esquecimento e o fortalecimento da noção de que o arquivo ou o próprio museu são espaços meramente destinados ao depósito daquilo que não mais faz parte do cotidiano. Preservação por vezes se confunde com o simples armazenamento de uma material que não pode ser perdido mas que também não é usado. Não é usado porque não faz mais parte da memória coletiva, porque não se identifica com a "atualidade".
Em alguns momentos, em casos especiais, esses documentos - seja qual for sua natureza - são reeditados, readaptados, explorados, para depois serem novamente esquecidos. Ao fazer essa reflexão eu me pergunto o que provoca essa tendência ao esquecimento. Porque se interessa tão pouco pelo passado? Daí me vem a ideia de que não é a falta de interesse pelo passado que é responsável pela perda gradativa da memória, pelo seu encarceramento em depósitos ditos "oficiais", mas sim o fato de que não reconhecemos a importância da memória em si.
A curiosidade acerca do passado existe. Qual professor de história nunca se deparou com alunos curiosos acerca do cotidiano da Idade Média, da História da sua localidade, da História da sua família? Eu constantemente vivencio essa experiência, mesmo entre aqueles que dizem não gostar de história, mas de gostar de saber sobre as curiosidades do passado, recente ou longínquo.
Então, devo concluir que a memória se perde, a cada dia, a casa década, porque as pessoas não entendem o que ela é, o que ela significa e que só será possível seu resgate ao reafirmar sempre sua importância, ao se definir claramente seu papel na sociedade contemporânea, ao de fundamentar o bom uso que se pode fazer dela e, acima de tudo, direcionar o ensino de história não para o ensino de conteúdos apenas, mas na redescoberta da memória coletiva, regional e nacional.
* Atenção: este texto pode ser reproduzido livremente, desde que seja creditado o autor.
2 comentários:
Natty, vc. tem toda razão nessa questão do "esquecimento" coletivo que nos assola. Acontece que guardamos aquilo que nos é importante, o que nos marca. A memória não é o registro incondicional.
Tenho andado por aí fazendo palestras sobre essa questão e cada vez mais percebo o conflito que existe entre a velocidade desse mundo, essencialmente informativo, e as questões de preservação do patrimônio imaterial, no qual a memória se inclui.
Concordo que deve haver uma preparação dos professores sobre esse tema. Assim, eles podem fomentar a consciência crítica dos alunos para considerar os novos olhares que a memória proporciona à História.
Este texto foi um momento de inspiração. Sabe quando vc chega da escola, depois de passar por uma situação em que para pensar e que tem que colocar isso no "papel" ou, no meu caso, "no blog"? Foi o que aconteceu.
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