domingo, 19 de março de 2023

O ESPAÇO URBANO COMO LUGAR DE MEMÓRIA

 

O Grand Palais, em Paris, está passando por uma reforma. Para justificar essa reforma foi feito um grande painel (acho que posso chamar assim) contando um pouco da história do edifício, além de outras informações destinados ao público.

Recentemente eu viajei ao exterior e uma das coisas que me chamou atenção, e que talvez passe despercebido para a maioria dos turistas, foi a formo como o espaço urbano é transformado em lugar de memória, a partir de ações simples. Por exemplo, na França, tanto na capital como em comunas do interior, quando se faz a reforma de um prédio, coloca-se banners ou murais explicando o "por que" daquele espaço ser preservado. Conta-se, por exemplo, a história de quem morou naquele lugar, ou a história do edifício e sua importância como patrimônio. 

Não se trata apenas de dizer o que vai ser feito, mas justificar valorizando o patrimônio. Essas ação são uma forma de educação patrimonial, na qual a comunidade tem acesso a informação histórica e, ao mesmo tempo, a criação de um espaço de memória. Uma forma didática de se educar, porque não é apenas na escola que temos acesso a conhecimento, as ruas das cidades também podem nos ensinar muito. 

Em Petrópolis há placas nas calçadas assinalando a história de casarões que fazem parte do centro histórico. No bairro de Benfica, em Lisboa, há também esse tipo de sinalização, que remete à memória do bairro a partir do seu conjunto arquitetônico. Em Mafra, Portugal, temos o projeto "Caminhos da poesia" ou "Caminho de Camões", que correspondem a 10 poemas de Camões distribuídos entre o Jardim do Cerco, o parque intermodal do Alto da Vela, a Variante Sul. Tal iniciativa une literatura, história e memória por meio da poesia.

Outro exemplo, são as placas com os nomes de ruas. Em algumas cidades, como Cognac, na França, os nomes das ruas vem seguidas de alguma informação sobre a pessoa nomeada, que deixar de ser um sujeito anônimo e passa a ter uma identidade. Algo simples e muito significativo. Na cidade do Rio de Janeiro e, acredito, em outras cidades brasileiras, esse tipo de ação, que ajuda a preservar a memória, já existe.

Eu fui surpreendida no meu retorno à minha cidade, Leopoldina (MG). com uma iniciativa semelhante e, diga-se de passagem, até melhor elaborada. A prefeitura está instalando novas placas de indicação nas quais esclarece quem é a pessoa à qual se homenageia nomeado praças, ruas, avenidas. Uma iniciativa fantástica que ajuda a valorar não apenas o espaço urbano, mas a construir uma identidade local.

Placa colocada na esquina da minha rua, não apenas trazendo uma pequena biografia do personagem que a nomeia mas, inclusive, o cep, que recentemente foi alterado.

Os pesquisadores Nilza Cantoni e José Luiz Machado já haviam feito, anos atrás, em 2004, um excelente trabalho identificando os nome das ruas de Leopoldina, "Nossas ruas, nossa gente: logradouros púbicos de Leopoldina" (clique aqui para acessar). Imagino que a iniciativa da prefeitura tenha partido desse trabalho que, agora, está dando mais frutos, transformando as ruas em lugares onde a história e a memória estão presentes.

Este exemplos que trazem iniciativas brasileiras e de outros países demonstra que ações com relação à memória e ao patrimônio, em contextos diferentes, trazem similaridades. Há a preocupação em usar o espaço público de forma pedagógica, de educar e criar um sentimento de orgulho pelo espaço urbano, reforçando assim a identidade coletiva, local e/ou nacional, assim como o sentimento de pertencimento.