O título dessa postagem talvez pareça exagerado, mas reflete um sentimento de satisfação ao saber que, depois de tantos anos, as mulheres estão ocupando espaço e competindo lado a lado com os homens num dos eventos mais importantes, relacionado aos quadrinhos, na Europa e no mundo.
O
festival de Angoulême, que está em sua 49ª edição, tem como finalistas para o
Grand Prix, pela primeira vez, três mulheres: Penélope Bagieu, Julie
Doucet e Catherine Meurisse. O fato é tão significativo que a própria
organização do evento reconhece sua importância.
Em quase meio século de existência o Festival
Internacional de Bande Dessinée de Angoulême havia premiado apenas três mulheres, Claire
Bretécher (1983), Florence Cestac (2000) e Rumiko Takahashi (2019). Para
2022, pela primeira vez, já sabemos por antecedência que uma mulher será
escolhida. Mas a questão toda não é sobre quem recebe o prêmio, mas a forma
como as indicações eram realizadas, privilegiando os homens em uma enorme lista
na qual poucas ou nenhuma mulher aparecia. Isso mudou, e os resultados estão aqui.
Em 2016, a ausência completa das mulheres entre a lista de
indicados levou a protestos, gerou controvérsias e fez com que o Festival de
Angoulême repensasse a forma como autores e autoras eram tratados. No ano de
2017, por exemplo, diversos coletivo de mulheres quadrinistas se reuniram e
promoveram debates. As mulheres foram sendo gradativamente acolhidas e, em 2019,
depois de um hiato de 19 anos, uma mulher novamente é premiada. Trata-se aqui de um reconhecimento
conquistado a partir da pressão de grupos feministas e de coletivos de mulheres,
apoiados por autores que também se sentiam incomodados com o sexismo que criava
barreiras para o reconhecimento do trabalho de autoras talentosas.
Claro, elas receberam prêmios em outras categorias, mas a categoria
principal ficava invariavelmente nas mãos dos homens. Faltava talento? Claro
que não! O talento das mulheres nos quadrinhos podia ser visto, por exemplo,
na seleção do Prêmio Artemísia, criado para dar visibilidade ao trabalho de
autoras que publicam na França. Obras lindas, sensíveis e profundas
foram selecionadas e premiadas ano a ano, mostrando que elas estavam lá, e seus
pares as reconheciam. Já era a vez de Angoulême mudar. E parece que está
mudando.
Nessa véspera do Dia Internacional da Mulher essa conquista, que pode parecer distante para a maioria de nós, tem um grande significado. A indicação de três mulheres, a premiação de uma, reflete uma mudança de postura e de pensamento que pode impactar positivamente futuras gerações de autoras.
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