domingo, 6 de março de 2022

AS MULHERES ESTÃO DOMINANDO ANGOULÊME?

 O título dessa postagem talvez pareça exagerado, mas reflete um sentimento de satisfação ao saber que, depois de tantos anos, as mulheres estão ocupando espaço e competindo lado a lado com os homens num dos eventos mais importantes, relacionado aos quadrinhos, na Europa e no mundo. 

O festival de Angoulême, que está em sua 49ª edição, tem como finalistas para o Grand Prix, pela primeira vez, três mulheres: Penélope Bagieu, Julie Doucet e Catherine Meurisse. O fato é tão significativo que a própria organização do evento reconhece sua importância. 

Em quase meio século de existência o Festival Internacional de Bande Dessinée de Angoulême havia premiado apenas três mulheres, Claire Bretécher (1983), Florence Cestac (2000) e Rumiko Takahashi (2019). Para 2022, pela primeira vez, já sabemos por antecedência que uma mulher será escolhida. Mas a questão toda não é sobre quem recebe o prêmio, mas a forma como as indicações eram realizadas, privilegiando os homens em uma enorme lista na qual poucas ou nenhuma mulher aparecia. Isso mudou, e os resultados estão aqui.

Em 2016, a ausência completa das mulheres entre a lista de indicados levou a protestos, gerou controvérsias e fez com que o Festival de Angoulême repensasse a forma como autores e autoras eram tratados. No ano de 2017, por exemplo, diversos coletivo de mulheres quadrinistas se reuniram e promoveram debates. As mulheres foram sendo gradativamente acolhidas e, em 2019, depois de um hiato de 19 anos, uma mulher novamente é premiada. Trata-se aqui de um reconhecimento conquistado a partir da pressão de grupos feministas e de coletivos de mulheres, apoiados por autores que também se sentiam incomodados com o sexismo que criava barreiras para o reconhecimento do trabalho de autoras talentosas. 

Claro, elas receberam prêmios em outras categorias, mas a categoria principal ficava invariavelmente nas mãos dos homens. Faltava talento? Claro que não! O talento das mulheres nos quadrinhos podia ser visto, por exemplo, na seleção do Prêmio Artemísia, criado para dar visibilidade ao trabalho de autoras que publicam na França.  Obras lindas, sensíveis e profundas foram selecionadas e premiadas ano a ano, mostrando que elas estavam lá, e seus pares as reconheciam. Já era a vez de Angoulême mudar. E parece que está mudando.

Nessa véspera do Dia Internacional da Mulher essa conquista, que pode parecer distante para a maioria de nós, tem um grande significado. A indicação de três mulheres, a premiação de uma, reflete uma mudança de postura e de pensamento que pode impactar positivamente futuras gerações de autoras.

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