Ilustração de Chantal Montellier em homenagem à enfermeira Palestina Razan al-Najar |
No
dia 01 de junho do ano corrente a enfermeira palestina Razan al-Najar, de 21
anos, foi morta a tiros durante um protesto na Faixa de Gaza. Razan era
voluntária e foi responsável por salvar centenas de vidas. A morte da enfermeira,
que usava o colete médico na ocasião, fere o direito o Direito
Internacional Humanitário que, entre outras coisas, protege os feridos em
áreas de conflito assim como as equipes médicas que lá atuam. A morte de Razan
por forças militares de Israel pode ser caracterizada como uma violação ao DIH
e, portanto, um crime de guerra.
Não consigo entender o ódio que se tem do pobre no Brasil, da mesma forma como não entendo o ódio que leva israelitas a atacarem palestinos. Talvez porque eu use a lógica. A mesma lógica faz com que eu questione: por que alguém que se dedica a ajudar ao próximo merece morrer?
Num
conflito que ceifa vidas a cada dia, na grande maioria de civis palestinos, uma
relevante parcela do povo israelita acredita os palestinos que morrem pelas
mãos de seus soldados, merecem esse destino. O povo de Israel parece ter
esquecido seu passado de escravidão, de privação, exílio forçado e genocídio.
No
Brasil, perdemos uma ativista dos direitos humanos, a vereadora Marielle Franco que foi assassinada no
dia 14 de março do ano corrente. Marielle foi, ainda, vítima de difamação, sem
nem ao menos poder se defender. Com Razan al-Najar não foi muito diferente. Num
primeiro momento, o exército de Israel declarou que abriu fogo apenas em
agitadores reduzindo a morte da enfermeira a quase uma banalidade. Mas a reação
internacional fez com que Israel prometesse investigar o caso.
Não
foi muito diferente aqui no Brasil. Para uma parcela da população, Marielle merecia morrer,
afinal ela era uma defensora dos direitos humanos, o que para muitos no Brasil se traduz como "uma defensora de bandidos". Apenas para título de esclarecimento, segundo a ONU, os direitos humanos incluem o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho e à educação, etc. Aqueles que se dizem contra os direitos humanos, em tese, estão negando-os a si mesmos.
Ilustração de Mariana Cagnin Disponível em: https://iphone.facebook.com/politicashq/?__tn__=C-R
Um
dado estatístico triste, divulgado pela Agência Brasil no início do mês de
junho, mostra que no ano de 2016 o Brasil ultrapassou a marca de 62 mil homicídios (62.517 pessoas
foram assassinadas) o que corresponde a 30,3 pessoas a cada 100 mil habitantes.
Um número 30 vezes maior do que o de toda a Europa. Na última década, mais de
meio milhão de brasileiros foram mortos. A maior parte das vitimas são
jovens, negros e mulatos. Todos eles mereciam morrer?
Não consigo entender o ódio que se tem do pobre no Brasil, da mesma forma como não entendo o ódio que leva israelitas a atacarem palestinos. Talvez porque eu use a lógica. A mesma lógica faz com que eu questione: por que alguém que se dedica a ajudar ao próximo merece morrer?
Também
me pergunto que tipo de religião ou de governo pode encontrar razão em defender
este tipo de comportamento. Mas razão é algo que não se encontra facilmente no
mundo atual. Na verdade, estamos cada vez mais sendo sufocados pela irracionalidade
coletiva e pelo ódio a quem simplesmente se recusa a odiar.
Marielle e Razan são duas mulheres vitimas da violência que elas combatiam. Uma violência que não é apenas contra as mulheres, mas contra à própria noção de dignidade. Elas representam todas e todos aqueles que morrem a cada minuto, muitas vezes sem saber a razão. As
famílias de Marielle e Razan talvez não conheçam a justiça. Essa é mais uma
coisa que elas possuem em comum. Mas não acho que isso seja motivo para se
resignar. Pelo contrário, devemos seguir o exemplo destas duas mulheres para que ainda possa haver esperança da razão sobrepujar a ódio no coração da
humanidade.
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