Continuando meu levantamento sobre Carnaval antigo de Leopoldina, gostaria de destacar algumas notas publicadas na Gazeta de Leopoldina, no ano de 1926, sobre os blocos carnavalescos. Os blocos de Carnaval, até o início do século XX recebiam vários nomes: ranchos, cordões, grupos sociedades e, claro, blocos.
Mas na década de 1920, intelectuais brasileiros, representando os anseios da elite, resolveram organizar as brincadeiras. O Carnaval se consolidava como uma festa nacional, da qual participavam todos os segmentos da sociedade. Era, portanto, necessário "ordená-la", enquanto festa nacional. O Carnaval, em especial o Carnaval Carioca passou a ser visto como um "resumo" da diversidade cultural brasileira.
Começaram ser divididas as diferentes categorias, que iam das sofisticadas sociedades carnavalescas – ou grandes sociedades – até os temidos cordões. Dentro dessa nova organização, os grupos do Carnaval chamado de popular eram classificados como ranchos (organizado), os blocos e cordões (desorganizado).
O bloco se tornava um meio termo e, na década de 1920 começaram a buscar por aceitação social, dando origem às escolas de samba na década de 1930.
Podemos identificar alguns tipos mais comuns de blocos:
Em Leopoldina existiam blocos diversos. Aqui vamos destacar os blocos de Carnaval formados por moças. O primeiro deles, que desfilou pelas ruas em 1926 foi o Bloco Prazer das Morenas, que era organizado na Rua Tradentes:
" Essa novel sociedade tem progredido bastante e este ano promete se apresentar melhor do que no ano passado.
À sua diretoria é a seguinte:
Presidente: senhorita Alice Gama
Vice-Presidente: senhorita Claudiana Barroso" (1)
Outro bloco formado apenas por mulheres era o Bloco das Cartolinhas, que fez sua estréia naquela ano:
"Um grupo de distintas senhoritas da sociedade leopoldinense está organizando o "Bloco das Cartolinha", prometendo grandes surpresas para os dias de Carnaval.
Esse alegre bloco dará a nota distinta do Carnaval, aparecendo na cidade um dia com seus elementos tarjados de "futuristas", outro de "pierrets" e com algumas outras várias fantasias."(2)
O bloco das Tesourinhas, que estréiava naquele ano, foi um dos que ganhou mais destaque no jornal:
"Está em plena florescência, na Grama, a constituição do bloco das "Tesourinhas". Essa encantadora agremiação, presidida pela graça adorável de um grupo de distintas senhoritas, promete abrilhantar as festas carnavalescas deste ano.
As "Tesourinhas", tendo por tema ridendo castigar mores - pretendem dar a nota chic, folgar e ... tesourar, pela raiz, as tristezas que não empolgarão nunca a jovialidade e a animação."(3)
Notem que os blocos femininos são formados por senhoritas. Não há menção de mulheres casadas. Supostamente, estas estariam impossibilitadas de participar de blocos sem a presença do marido. Acredito que, nestes casos - dependendo do segmento social - as mulheres casadas participassem do corso de automóveis, juntamente com marido e filhos mais jovens. Os blocos eram para moças - senhorias distintas. Estes blocos eram aceitos socialmente e classificados como distintos, chics, por serem formados por moças de família.
No Carnaval, as moças tinham relativa liberdade de poderem se agrupar em blocos, fazer fantasias e desfilarem, embora acredito eu que sempre sobre a vigilância dos pais, que deviam acompanhar todo o processo de organização dos blocos. No jornal, aparecem relatos de blocos, bailes e corsos, mas sempre organizados pela elite local, chic. Não há menção, pelo menos em 1926, de manifestações populares, como se a periferia estivesse afastada do Carnaval. Também naquele ano sobre o Carnaval dos menos favorecidos, de como se divertiam nos dias de folia.
Da mesma forma que aconteceu no Rio de Janeiro, procurava-se passar a imagem do Carnaval como uma festa ordenada, reconhecida pela elite através da presença de seus filhos e filhas, dos bailes chics e reservados, dos corso de automóveis dos quais participavam os que podiam alugar um automóvel e gastar com decoração e fantasias. Ao restante da população ficava o papel de mero observador, pelo menos em tese.
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(1)Gazeta de Leopoldina, Leopoldina, 31/012/1921, p. 03
(2) Idem.
(3) Gazeta de Leopoldina, Leopoldina, 04/02/1926, p. 03
ATENÇÃO: O texto acima pode ser livremente reproduzido, desde que seja citada a fonte e o autor.
Mas na década de 1920, intelectuais brasileiros, representando os anseios da elite, resolveram organizar as brincadeiras. O Carnaval se consolidava como uma festa nacional, da qual participavam todos os segmentos da sociedade. Era, portanto, necessário "ordená-la", enquanto festa nacional. O Carnaval, em especial o Carnaval Carioca passou a ser visto como um "resumo" da diversidade cultural brasileira.
Começaram ser divididas as diferentes categorias, que iam das sofisticadas sociedades carnavalescas – ou grandes sociedades – até os temidos cordões. Dentro dessa nova organização, os grupos do Carnaval chamado de popular eram classificados como ranchos (organizado), os blocos e cordões (desorganizado).
O bloco se tornava um meio termo e, na década de 1920 começaram a buscar por aceitação social, dando origem às escolas de samba na década de 1930.
Podemos identificar alguns tipos mais comuns de blocos:
- os blocos de enredo (possuem um samba enredo, uma temática)
- os blocos de embalo (blocos sem enredo)
- os blocos de sujo (foliões com fantasias improvisadas, geralmente desorganizado)
- os blocos das piranhas (homens vestidos de mulher desfilam pelas ruas em grupo, acompanhados ou não do som de instrumentos musicais).
Em Leopoldina existiam blocos diversos. Aqui vamos destacar os blocos de Carnaval formados por moças. O primeiro deles, que desfilou pelas ruas em 1926 foi o Bloco Prazer das Morenas, que era organizado na Rua Tradentes:
" Essa novel sociedade tem progredido bastante e este ano promete se apresentar melhor do que no ano passado.
À sua diretoria é a seguinte:
Presidente: senhorita Alice Gama
Vice-Presidente: senhorita Claudiana Barroso" (1)
Outro bloco formado apenas por mulheres era o Bloco das Cartolinhas, que fez sua estréia naquela ano:
"Um grupo de distintas senhoritas da sociedade leopoldinense está organizando o "Bloco das Cartolinha", prometendo grandes surpresas para os dias de Carnaval.
Esse alegre bloco dará a nota distinta do Carnaval, aparecendo na cidade um dia com seus elementos tarjados de "futuristas", outro de "pierrets" e com algumas outras várias fantasias."(2)
O bloco das Tesourinhas, que estréiava naquele ano, foi um dos que ganhou mais destaque no jornal:
"Está em plena florescência, na Grama, a constituição do bloco das "Tesourinhas". Essa encantadora agremiação, presidida pela graça adorável de um grupo de distintas senhoritas, promete abrilhantar as festas carnavalescas deste ano.
As "Tesourinhas", tendo por tema ridendo castigar mores - pretendem dar a nota chic, folgar e ... tesourar, pela raiz, as tristezas que não empolgarão nunca a jovialidade e a animação."(3)
Notem que os blocos femininos são formados por senhoritas. Não há menção de mulheres casadas. Supostamente, estas estariam impossibilitadas de participar de blocos sem a presença do marido. Acredito que, nestes casos - dependendo do segmento social - as mulheres casadas participassem do corso de automóveis, juntamente com marido e filhos mais jovens. Os blocos eram para moças - senhorias distintas. Estes blocos eram aceitos socialmente e classificados como distintos, chics, por serem formados por moças de família.
No Carnaval, as moças tinham relativa liberdade de poderem se agrupar em blocos, fazer fantasias e desfilarem, embora acredito eu que sempre sobre a vigilância dos pais, que deviam acompanhar todo o processo de organização dos blocos. No jornal, aparecem relatos de blocos, bailes e corsos, mas sempre organizados pela elite local, chic. Não há menção, pelo menos em 1926, de manifestações populares, como se a periferia estivesse afastada do Carnaval. Também naquele ano sobre o Carnaval dos menos favorecidos, de como se divertiam nos dias de folia.
Da mesma forma que aconteceu no Rio de Janeiro, procurava-se passar a imagem do Carnaval como uma festa ordenada, reconhecida pela elite através da presença de seus filhos e filhas, dos bailes chics e reservados, dos corso de automóveis dos quais participavam os que podiam alugar um automóvel e gastar com decoração e fantasias. Ao restante da população ficava o papel de mero observador, pelo menos em tese.
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(1)Gazeta de Leopoldina, Leopoldina, 31/012/1921, p. 03
(2) Idem.
(3) Gazeta de Leopoldina, Leopoldina, 04/02/1926, p. 03
ATENÇÃO: O texto acima pode ser livremente reproduzido, desde que seja citada a fonte e o autor.
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