sábado, 1 de dezembro de 2018

YÔKAIDÔ: ARTE. MEMÓRIA E CULTURA POPULAR JAPONESA

Yôkaidô de Shigeru Mizuki & Utagawa Hiroshige é o 16º licro da coleção Blaise, publicado pelas éditions Cornélius.


Recebo constantemente notificações sobre publicações francesas, muitas vezes acompanhadas dos lançamentos, em versão pdf, para análise. Isso passou a acontecer nos últimos dois anos, desde que participei pela primeira vez do Festival de Quadrinhos de Angoulême.

O ano corrido que tive não me permitiu dar a eles a devida atenção, mas eu estou me organizando para poder, pelo menos uma vez por mês (quem sabe duas) reservar um espaço para falar destas obras.  

Vou começar com o trabalho Yôkaidô, que reúne a obra de Shigeru Mizuki e Utagawa Hiroshige, lançado na última quinta feita, dia 29 de novembro de 2018, pela Éditions Cornélius. Trata-se do livro ilustrações, originais. Trata-se de um livro que reúne as gravuras feitas por Utagawa Hiroshige, sob a releitura de Shigeru Mizuki, que até então eram inéditos na França.

Utagawa Hiroshige
Utagawa Hiroshige é um dos artistas japonês mais reconhecido na arte da gravura. Nascido em 1797, ele retrata a paisagem japonesa antes de sua transformação durante a era Meiji. Em 1832, depois de fazer sua primeira viagem por estrada do Tokaido, que liga a capital do shogun, Edo, e a capital imperial, Kyoto, ele criou série das gravuras mais famosa As Cinquenta e três Estações o Tokaido (1833-1834), com as paisagens dos locais por onde passou, incorporando a elas cenas da vida diária. É considerado um dos o maiores pintores do ukiyo-e (termo japonês que significa "imagem do mundo flutuante"), tendo produziu cerca de 8.000 impressões ao longo de sua vida. Sua influência na arte ocidental é enorme, tendo inspirado mestres impressionistas como Vincent Van Gogh, Claude Monet e Alfred Sisley. 

Shigeru Mizuki
Shigeru Mizuki nasceu 08 de março de 1922 em Sakai-Minato, pequena cidade costeira no sudoeste do Japão, e morreu em 30 de novembro de 2015. Ele sabe que há uma infância livre e feliz, bons tempos ele vai tirar muitas vezes em sua manga.  Durante a II Guerra Mundial participou da À Campanha da Nova Guiné, uma das maiores campanhas militares da II Guerra Mundial, quando tinha pouco mais de 20 anos de idade. As lutas começaram com o ataque japonês a Rabaul em janeiro de 1942, e perduraram até o final da guerra. Durante a guerra. Em Nova Guiné, ele contraiu malária e perdeu o braço esquerdo em bombardeamento. Em 1957, Mizuki começou sua carreira como contador de histórias, utilizando como personagens os youkai, uma classe de criaturas sobrenaturais do folclore japonês, que inclui o oni, a kitsune e a yuki-onna. Ele explorava o universo sobrenatural e demonstrava um profundo conhecimento da alma humana.

O livro é uma homenagem de Shigeru Mizuki  a Hiroshige, que une a tradição clássica do ukiyo-e (movimento artístico da gravura no período Edo) e folclore japonês. No livro, Mizuki  faz uma releitura das gravuras de Hiroshige, inserindo nelas elementos do folclore japonês, os youkai. Nas palavras do editor, as “gravuras de Hiroshige, os youkai personificam esta herança japonesa perdida. Eles são cultura vernacular em que os grandes senhores e camponeses desenharam parte de sua crença e suas férias.” Em respeito a esta herança, Shigeru Mizuki utilizou a mesma técnica de gravura tradicional, na qual cada placa foi gravada em madeira antes de ser impressa.

Na minha leitura, trata-se, ao mesmo tempo, de uma obra que se propõe a reviver uma memória e, ao mesmo tempo, enfatizar o poder da cultura popular, especialmente do folclore, sobre a arte e o imaginário oriental.

O que me levou a comentar sobre esta obra, dentre tantas outras que eu recebi da editora Cornélius foi o fato de que eu já tinha tido contato anteriormente com a obra Utagawa Hiroshige, em 1998, em uma exposição sobre a influência da arte oriental na obra de Van Gogh, em Veneza. A primeira exposição de arte que visitei na primeira vez que viajei ao exterior.

Enfim, um livro belíssimo que pretendo adquirir em sua edição impressa.



Um comentário:

stéphano bahia disse...

Campanha da Nova Guiné foi um verdadeiro inferno verde pros soldados japoneses. Malária etc. inclusive a encarniçada batalha de Guadalcanal contra os EUA... foi chamada de "A Verdun do pacífico".
Mizuki deu 1 exemplo de superação ao ser mangaká com 1 braço!