domingo, 21 de outubro de 2018

O CORREIO DE LEOPOLDINA E OS BONDS A VAPOR


A Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional tem disponibilizado outros jornais de Leopoldina, além da Gazeta de Leopoldina e O Leopoldinense. Um destes jornais, do qual constam apenas 02 exemplares digitalizados, é o Correio de Leopoldina - Semanário noticioso. Resolvi dar uma olhada no jornal para verificar se havia alguma curiosidade sobre a cidade, já que eu não escrevo nada sobre Leopoldina já faz algum tempo. 

Acho pertinente fazer uma breve introdução sobre o periódico, a partir dos dados que ele nos oferece. O Correio de Leopoldina - semanário noticioso, foi fundado no final em 1894, entre novembro e dezembro daquele ano. Em seu primeiro número, não há data específica, apenas o ano e o local. Mas como um das suas publicações é a transcrição do discuso de posse do Presidente da República Prudentes de Moraes, datado de 15 de novembro de 1894, é de se supor que o periódico tenha sido publicado pela primeira vez entre a segunda quinzena daquele mês e o mês de dezembro.

Ele era de propriedade da Empresa Editora Mineira, cuja gerência ficava a cargo de Antônio Luiz Delandes, tendo como redator-chefe Henrique Cancio. O jornal atendia exclusivamente aos interesse da lavoura, comércio e indústria do município e aceitava colaborações, desde que se fizesse um "bom uso da linguagem", que não poderia ser insultuosa. Uma curiosidade: o jornal oferecia brindes a seus assinantes, na forma de composições musicais, como pode ser visto na figura abaixo. 

Correio de Leopoldina, n. 01, p. 03.
O Correio de Leopoldina apresentava-se como um jornal "patriótico" e recebia a colaboração de diversos representantes da comunidade, como José Monteiro Ribeiro Junqueira, Ernesto Lacerda e José James Zip Zag, além de correspondentes no Rio de Janeiro, Capital Federal do Brasil durante a Primeira República. Era, portanto  um jornal a serviço das oligarquias locais. A colaboração de José Monteiro Ribeiro Junqueira corrobora com esta afirmação, uma vez que os Monteiro Ribeiro Junqueira exerceram por décadas seu poder na região. 

No primeiro número do jornal chamou-me a atenção uma pequena nota que falava sobre uma proposta que supostamente seria apresentada à Câmara Municipal de Leopoldina: uma linha de bonde a vapor ligando os distritos de Tebas e Piedade (atual Picatuba).

Bonde a vapor, construído por volta de 1870 pela Metropolitan Railway Carriage & Wagon Company, em Birmingham, na Inglaterra, para trafegar em São Vicente - Imagem e dados disponíveis em: http://www.novomilenio.inf.br/santos/trilho24.htm. Acesso em: 23 set. 2018.

Era uma nota, visivelmente especulativa, com pouco mais de 10 linhas, não contendo nenhuma informação concreta sobre o assunto, apenas a intenção de "alguém". Leia a transcrição na íntegra

"Alguém tenciona apresentar à Câmara Municipal um projeto que ligará Piedade a Tebas e e esse distrito à Leopoldina por meio de bonds a vapor. São destes melhoramentos que há muito carecemos, visto serem eles portadores de enormes benefícios, tanto pra os três distritos, como também para o de Rio Pardo e arredores. Não desejamos ser aves agoureiras, porém, é nos permitido fazer esta pergunta:

Onde se encontra o apoio à grandes ideias levantadas neste município?" 


Correio de Leopoldina. Bonds a vapor. p. 04, 1894. 
Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Duas coisas chamam a atenção neste pequeno fragmento. A primeira é a referência aos bondes. Esta é a primeira vez que encontro a menção a este assunto em um jornal de Leopoldina. Nas muitas vezes que visitei o Leopoldinense ou mesmo a Gazeta de Leopoldina, não me deparei com nada do tipo. O único meio de transporte mencionado é a ferrovia, pelo menos no século XIX e início do século XX, a não ser por algumas rápidas menções em folhetins.

Outra coisa intrigante é ideia de usar o bonde para interligar distritos. O bonde é um meio de transporte tipicamente urbano e que possui um número limitado e passageiros, se comparado aos vagões de um trem. No Brasil, o primeiro bonde começou a circular em 1859, por tração animal. Em 1862 vieram os bondes a vapor. Em 1892 os bondes elétricos já haviam sido introduzidos no Brasil, mas Leopoldina só viria a ter acesso à energia elétrica em 1905, com a criação da Companhia Força e Luz Cataguases-Leopoldina (atual Energisa). Daí a menção aos bonde a vapor e não aos bondes elétricos.

Para saber se houve realmente a apresentação do projeto à Câmara se faz necessário uma análise documental que não tenho intenção de fazer no momento por indisponibilidade de tempo. De todo modo, vale prazer de especular um pouco sobre a história de Leopoldina e, quem sabe, inspirar outras pessoas a se aprofundarem nela?


Nenhum comentário: