Para quem não conhece, Pedro Nava foi um médico memorialista de Juiz de Fora, considerado um dos grandes memorialistas brasileiros. Através de sua premiada obra, ele reabilitou o gênero e mostrou que é possível dar a uma narrativa de memória sentimento, coerência e até um pouco de poesia.
Seguem alguns fragmentos:
O Dr. Dilermando (Martins da Costa) Cruz era um leopoldinense fixado em Juiz de Fora. Fino, elegante, calvo desde muito moço e usando bigode e barbicha que disfarçavam seu ligeiro prognatismo superior. Tinha uma dentadura esplendida e era dono do sorriso mais contagioso que se possa imaginar. Eu adora ir com meu pai à sua casa, por causa dele, dos seus filhos e sobretudo do ambiente de que conservei uma impressão veludosa e colorida. Vastos claros de paredes brancas, pardos de mobílias lustrosas, verde musgo de cortinas e panos de mesa, compondo natureza morta onde as cores eram surdas e sem estridência como nos quadros de Bracque. (...) Estudei sua lembrança, a de seus filhos, a de sua esposa e afinal a de sua residência. Era esta que me levava a liga-lo a Georges Bracque – porque ele morava, sem mais nem menos, dentro de uma natureza morta do mestre. Obrigado, Dr Dilermando, obrigado! Por suas salas cuja arrumação e cujas tintas me prepararam para entender as guitarras, violinos, facas, jarros e travessas de beleza mitológica e de cor abafada do pintor fovista e cubista. Depois soube que o Dr. Dilermando era poeta.[1]
Um comentário:
Obrigada pela mensagem, Luiz!
:-)
Abraço!
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