HISTÓRIA E ENSINO SEM FRONTEIRAS
Este site foi criado para que eu pudesse postar meus trabalhos sobre a História de Leopoldina, sobre História do Ensino e Educação. Com o tempo ele acabou se tornando muito mais do que isso. Hoje eu o uso para fazer reflexões sobre meu trabalho na escola, sobre minhas pesquisas com quadrinhos e sobre minhas opiniões sobre livros e filmes.
quarta-feira, 15 de outubro de 2025
A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
sexta-feira, 10 de outubro de 2025
4ª FEIRA LITERÁRIA DE LAVRAS - FLILAVRAS
Nos dias 24 e 25 de outubro de 2025 está ocorrendo a 4ª Feira Literária de Lavras, a FLILAVRAS, organizada pela Academia Lavrense de Letras. Este ano a homenageada é um dos grande nomes da poesia brasileira, Cecília Meireles. O evento na sexta-feira, dia 24 de outubro a noite e segue no dia 25 de outubro, com palestras, lançamento de livros e momentos lúdicos. O evento é gratuito.
Confira a programação:
segunda-feira, 6 de outubro de 2025
VIADUTO, HQ DE ANA LUISA KOEHLER
Pensem em um quadrinho que reúne
uma história interessante e uma arte quase etérea. É assim que eu vejo as
obras de Ana Luísa Koehler, desde que li pela primeira vez "Beco do
Rosário". Viaduto é uma sequência dessa primeira obra, ambientada na
cidade de Porto Alegre, na década de 1930, e que traz como protagonistas
Vitória, uma jovem negra, idealista e jornalista, e Frederica, uma mulher branca de elite que, depois de um divórcio escandaloso, foi afastada pela família e agora se dedica à música e à boemia, trabalhando como
pianista em um clube.
Imaginem uma mulher, negra e jornalista, no início do século XX, justamente em Porto Alegre, uma cidade com
forte influência da imigração europeia, notadamente alemã. Imagine uma mulher
branca de elite que quer viver uma vida sem regras e que coloca sua música e
liberdade em primeiro lugar. Este contraste e a amizade que nasce da vontade
dessas mulheres de quebrarem paradigmas, enfrentando o sexismo e o machismo da
época, já é suficiente para tornar enredo atraente.
Em "Viaduto", temos como pano de fundo a obra de construção
do viaduto Otávio Rocha, marcada por problema de cunho econômico, como a falta
de recursos. O ano de 1930 é um momento de mudança política, com a acessão
de Vargas, e econômica, com os primeiros efeitos da crise de 1929. Vitória
está cobrindo matérias sobre a obra do viaduto. Ela agora já e uma jornalista estabelecida
e com uma reputação construída. Ela leva para a comunidade, por meio da mídia, os problemas que são
trazidos pela obra.
Outros personagens
que marcaram "Beco do Rosário" vão sendo introduzidos, como Téo e Fabrício. O
leitor vai adentrando em suas vidas, descobrindo o que eles se tornaram, já passados
mais de 15 anos dos acontecimentos que marcaram “Beco do Rosário”. Porto Alegre, como cidade, mudou. Agora vê-se
ao horizonte arranha-céus e as avenidas largas tomaram conta dos antigos becos.
A vida dos personagens também está diferente. Eles agora estão em caminhos distintos,
embora venham a se cruzar em "Viaduto".
Tanto “Beco do Rosário” quanto “Viaduto”
foram trabalhos que resultaram de uma exaustiva pesquisa de campo na qual a autora, a partir e um trabalho de
memória urbana, pesquisou em jornais de época e outas fontes, como documentos oficiais, para poder reconstituir a cidade de Porto Alegre antes e
durante a reforma urbana, iniciada em 1914, dentro do Plano Geral de
Melhoramentos, elaborado pelo arquiteto João Moreira Maciel.
O Plano Geral de Melhoramentos foi uma versão da reforma urbanos do Rio de Janeiro, capitaneada por Pereira Passos, entre os ano de 1902 e 1906, também, marcada pelo higienismo social (doutrina do século XIX que ligava a saúde e o bem-estar de uma nação ao comportamento individual e às condições urbanas), por uma visão preconceituosa da população de baixa renda, que vivia nos becos da cidade.
Koehler traz uma história que envolve tanto famílias afetadas pela reforma quando pessoas da elite, que exaltam a chagada do “progresso” e da “civilização”. Por isso, apensar dos personagens centrais da trama sejam ficcionais, há “participações especiais” de personagens que realmente existiram, e que estivem envolvidos nas mudanças urbanas da cidade. Uma história em quadrinhos com personagens forte e envolventes e que é resultado de um exaustivo trabalho de pesquisa e de execução.
sábado, 4 de outubro de 2025
LANÇAMENTO DO LIVRO "QUADRINHOS, CONCEITOS E LINGUAGENS"
terça-feira, 30 de setembro de 2025
FREDRIC, WILLIAM E A AMAZONA. PERSEGUIÇÃO E CENSURA AOS QUADRINHOS
Marston, é sempre apresentado de forma otimista, um idealista que tem uma vida excêntrica com suas duas esposas (ele era adepto do poliamor). Ele encontra nos quadrinhos uma forma de popularizar suas ideias acerca das relações de gênero e do feminismo e de sua invenção, o polígrafo, comumente chamado de detector de mentiras. Suas relações familiares fazem parte do enredo, destacando sua relação com sua esposa e sua amante.
Não acho que o termo “amante” seja correto para descrever a relação dele com Olive Byrne mas não me veio em mente outra palavra, visto que, levando em conta os paradigmas sociais da época, ela se encaixava dentro desta categoria, embora sua relação com Marston não fosse clandestina (inclusive, se alguém tiver um termo melhor que eu possa usar, aceito sugestões). Há de se destacar a forte presença de sua esposa, Elizabeth Holloway Marston, e sua importância tanto no que tocante ao bom andamento das relações familiares quanto ao seu trabalho de Marston e à própria criação da Mulher Maravilha.
Esta HQ, de autoria dos franceses Jean-Marc Lainé (roteiro) e Thierry Olivier (arte). O roteirista, Lainé, criou a narrativa deste quadrinho a parte do seu conhecimento sobre a história dos quadrinhos estadunidenses, tendo experiências tanto como editor quanto como pesquisador de quadrinhos. A obra, apesar de possuir muitos elementos ficcionais, até porque não há como escapar deles quando se constrói uma narrativa biográfica em quadrinhos, é bem factualmente bem embasada, inclusive com textos complementares, ao final da obra que valem a pena ser lidos.sexta-feira, 26 de setembro de 2025
CHÃO ANCESTRAL - LIVRO DE POESIAS
quinta-feira, 25 de setembro de 2025
ALGUMAS NOTAS SOBRE O LIVRO KIM JIYOUNG, NASCIDA EM 1982
Vou começar com o livro “Kim Jiyoung, nascida em 1982”, que eu terminei de ler na semana passada. Este livro foi publicado originalmente na Coreia do Sul em 2016 e se tornou um fenômeno internacional. Foi recomendação da amiga Fabiana Rubira. A autora do livro é Cho Nam-Joo, uma ex-roteirista de televisão. Na época da publicação de seu livro, na Coreia do Sul, estava emergindo o movimento #MeToo no país. Foi uma coincidência feliz para a autora, que viu seu livro ganhando visibilidade graças ao amplo debate sobre o papel da mulher na sociedade sul-coreana, fortemente marcada pela desigualdade de gênero.
Neste livro ela narra a vida de Kim Jiyoung uma jovem sul-coreana que pode representar qualquer uma jovem comum, na faixa dos 30 anos de idade. Vinda de uma família simples, Kim Jiyoung encontrou-se sob uma grande pressão para atender as expectativas do mercado de trabalho e ao mesmo tempo da sociedade. Ela quer investir em uma carreira, conseguir um bom casamento e construir uma família.
Parece tudo muito engessado, e realmente é. Kim Jiyoung é uma das milhões de mulheres que andam na corda-bamba na Coreia do Sul. Ela tem ambições, mas vê pouco a pouco seus sonhos escapando entre seus dedos quando opta por ter o primeiro filho. Por detrás disso há uma forte pressão social. A moça o engravida e é obrigada a abrir mão da sua carreira e dos seus sonhos para viver como esposa e mãe.
O livro vai e volta no tempo, trazendo a jovem Kim Jiyoung, suas experiências na infância e na juventude, assim como os obstáculos que teve que enfrentar em uma sociedade que ainda valoriza mais os homens, seja como filhos ou como trabalhares. Na Coreia do Sul, muito mais do que no Brasil, e aí podemos destacar a influência do confucionismo naquele país, os homens ainda são acima das mulheres, até na própria família. Era muito comum, por exemplo, as irmãs começarem a trabalhar cedo para pagar os estudos dos irmãos. Em tempos mais antigos, as mulheres nem mesmo podiam comer na mesma mesa que os homens e nem mesmo partilhar da mesma comida.
Uma coisa que me chamou atenção neste livro, é que a autora teve a preocupação de inserir dados retirados de artigos científicos, de matérias jornalistas e indicadores estatísticos. É uma forma de embasar a história de vida da protagonista e chamar atenção para os obstáculos que as mulheres têm que enfrentar, da infância à vida adulta. Entre estes dados estão aqueles relacionados à questão de desigualdade de gênero e sobre o mercado de trabalho.
A saúde mental é outra questão que o livro aborda, resultado de todos esta pressão social que se coloca sobre as mulheres. Kim Jiyoung passa a frequentar um psiquiatra após ter sua criança, sentindo-se perdida e sem perspectivas de futuro. A maternidade é apresentada como sendo o fim da possibilidade de acessão profissional pois, apesar de existir licença maternidade, as mulheres são levada a desistir de seus empregos e voltar para sua posição original, após alguns anos, é muito raro.
Muitas mulheres que têm filhos optam por empregos de meio período, descartando sua formação universitária e sua experiência profissional. Aí alguém pode dizer: "Ah, mas ela não precisa fazer isso!". Talvez para quem viva no Brasil e em outros países ocidentais isso possa ser uma possibilidade, e temos muitos exemplo no nosso dia a dia, mas lá na Coreia do Sul a coisa não é bem assim. Não são todas que conseguem permanecer em seus empregos após ter filhos e mesmo aquelas que retornam podem ainda abandonar o trabalho devido ao acumulo de responsabilidades profissionais e domésticas.
Um drama recente, "A cidade e lei" (2025), traz uma situação semelhante quando uma advogada, Bae Mun Jeong, interpretada pela atriz Ryu Hye Young, engravida e procura se informar sobre sua licença maternidade (ou licença parental). Ela ouve do chefe que, nestes casos, o normal é se demitir. Ela não aceita a situação e busca manter seu direito adquirido por lei: de afastar, ter seu(ua) filho(a) e retomar às suas atividades profissionais ao fim da licença. Mesmo sendo advogada ela tem muita dificuldade para conseguir, reproduzindo uma situação que afeta ainda em 2025 muitas mulheres naquele país. Aliás, a roteirista do drama tem formação em advocacia, o que dá uma certa profundidade à experiência desta personagem em particular.
Tanto o livro quanto nesta série podemos perceber que mulheres que se casam são vistas como um problema, pois eventualmente podem engravidar e interromper suas tarefas. O retorno é visto como inviável, e muito disso se deve à grande competitividade. Um dos dados que a autora apresenta é justamente sobre essa questão, em 2009 "quatro em cada dez mulheres trabalham sem a garantia de licença maternidade"(p. 93).
A mesma sociedade, que atualmente vive uma crise séria de crescimento demográfico, quer que as mulheres casem e tenham filhos, mas acabam obrigando-as a escolher entre família e profissão, como se não houvesse um meio termo (aquele encontrado pela advogada da série que eu citei). Como a autora gosta de inserir dados estatísticos e informações retiradas de fontes científicas, vou finalizar o texto com alguns dados atuais com relação às mulheres na Coreia do Sul.
"A partir da década de 2010, mais mulheres optaram por permanecer solteiras ou casadas e sem filhos. Políticas familiares como creche e licença parental não foram suficientes para tornar o trabalho e a criação dos filhos compatíveis em geral e, portanto, não tiveram os efeitos desejados sobre a fertilidade e o emprego feminino. Os efeitos das intervenções políticas variam com base em fatores como a posição das mulheres no mercado de trabalho e o acesso a programas de apoio, como creches de qualidade. A análise indica que, até que o emprego e a maternidade possam ser combinados de forma razoável para a maioria das mulheres, o custo alternativo da maternidade permanecerá alto e a fecundidade permanecerá baixa ou cairá ainda mais"
(Women’s employment and fertility in Korea. OECD. 18 October 2024. Disponível em: https://www.oecd.org/en/publications/women-s-employment-and-fertility-in-korea_ac53879e-en.html Acesso em 25 set. 2025).
sexta-feira, 29 de agosto de 2025
COMENTANDO PEDRO E O IMPERADOR
A HQ "Pedro e o Imperador" foi lançada graças a este programa, que envolveu a embaixada do Brasil em Portugal e a de Portugal no Brasil, dentro das comemorações do bicentenário da Independência, comemorado em 2022. Ela narra uma série de interações entre o espírito de Dom Pedro I e seu filho, O Imperador Pedro II, que começam por ocasião do falecimento da princesa Leopoldina, filha caçula de D. Pedro II, em 1871, na Áustria.
O fantasma do pai (embora ele não se classifique desta forma) passa a acampar o filho até sua morte no exílio, em Paris, em 1892. O espirito de D. Pedro I estimula o filho a conhecer o mundo e o acompanha em suas viagens, Lisboa, Egito, Filadélfia e Alemanha. As viagem do Imperador que desejava ser um cidadão do mundo e que, na sua ausência do Brasil, queria tentar ser uma pessoa comum, um viajante. Aliás, para quem tiver curiosidade, é possível acessar a transcrição dos 43 volumes dos diários do imperador d. Pedro II, escritos entre 1840 e 1891, no site do Museu Imperial (clique aqui).
Pai e filho falam sobre as dificuldades de governar, sobre a questão da escravidão, discutem sobre a possibilidade de uma República e até debatem sobre o prenso liberalismo de Pedro I, ironizado pelo filho. Falam de coisas triviais como o amor e sobre as frustações de cada um com a vida. Discordam de muitas coisas mas reafirmam seu sentimento de pertencimento com relação ao Brasil. Há, inclusive, alusão à frase de D. Pedro II, que quando perguntado o que faria quando não fosse Imperador teria afirmado que seria professor.
A HQ é um ficção histórica que resgata alguns episódios da vida do Imperador D. Pedro II, afastado do pai ainda aos 5 anos de idade, e que também aborda temas que dizem respeito à vida destes dois personagens da História do Brasil, que conversam sobre suas frustações, falam de arrependimentos. Longe de ser uma obras historiográfica, trata-se de uma ficcionalização do passado cujo objetivo é a reflexão do que a exaltação do fato.
Um quadrinho agradável e que desperta a curiosidade, com passagens bem humoradas, apresentando um D. Pedro II menos rígido e mais bem humorado. Vale a leitura.
sábado, 2 de agosto de 2025
GATILHO - ARMAS E SAÚDE MENTAL
Pelo resumo da série eu já sabia
que se tratava de um drama policial, mas, então, já no segundo episódio, caiu a
ficha: é uma distopia. Para quem não sabe, a distopia é um tipo de ficção que
retrata cenário caóticos ou apocalípticos, nos quais a comunidade vive um
regime de violência ou opressão. As pessoas às vezes relacionam cenários
distópicos a obras de fantasia ou ficção científica, mas não é necessariamente
assim. Em "Gatilho" temos uma distopia que remete a um
"SE". O que aconteceria se... a população da Coreia do Sul tivesse
acesso às armas de fogo?
No drama, as armas de fogo são
distribuídas gratuitamente por uma organização criminosa internacional,
explorando principalmente pessoas com traumas, transtornos mentais e com
tendências violentas. Nas mãos destas pessoas verdadeiros massacres acontecem,
uma vez que elas passam a recorrer à violência quando levadas ao limite. É o
gatilho, induzido por uma situação traumática ou vexatória que leva uma pessoa
comum como uma dona de casa, um estudante ou uma enfermeira a matar outas
pessoas.
Na Coreia do Sul existe uma
política rígida sobre o porte de armas. Elas praticamente são de uso policial e
militar e para prática de esportes (mas mesmo assim sob rígido controle da
polícia).
“A Coreia do Sul tem
políticas rigorosas de armas. Licenças de caça e esportivas são emitidas, mas
qualquer arma de fogo usada nessas circunstâncias deve ser armazenada em uma
delegacia de polícia local. Os rifles de ar também precisam ser armazenados nas
delegacias de polícia; bestas e dispositivos de choque elétrico também
são classificados como armas de fogo, mas sua retenção privada é
permitida. Tasers são proibidos, e possuir uma arma de brinquedo sem
uma ponta laranja é estritamente proibida. A violação da lei de armas de fogo
pode resultar em multa de US$ 18.000 e até 10 anos de prisão”[1]
Por isso, quem já assistiu um
drama sul coreano deve ter percebido que os bandidos usam facas, até espadas,
mas não portam armas. Inclusive, a Coreia do Sul está implementando o uso
de armas menos letais pela polícia, como taser e pistolas de baixo risco, para
situações de menor potencial de violência. Inclusive o protagonista, um
policial que foi x-sniper do exército coreano não usa armas de fogo,
apenas armas não letais.
E este é uma das questões
levantadas pelo k-drama: se é ou não necessário usar armas de fogo para
combater o crime. O protagonista Yi-do (Kim Nam-gil) acha que não,
embora, por força das circunstâncias, seja obrigada novamente a usar uma arma.
No entanto, ao longo de toda a trama ele se coloca muito mais na posição de
quem protege a vida do que a tira. O uso de armas de fogo por civis também
é outra questão. São usados argumentos clássicos em sua defesa, tal como “se eu
tiver uma arma posso me defender”, ou “se eu tiver uma arma não serei uma vítima”,
assim como tantos outros argumentos usados pelos defensores do porte livre de
armas.
A série é realmente muito interessante. Não vou escrever mais sobre ela para não dar spoilers. Apesar de pensada dentro da realidade sul-coreana, acho que Trigger tem muito a ensinar e nos fazer refletir sobre a violência e o que nos torna violentos. É bom lembrar que nos últimos anos têm crescido o discurso de ódio em todo o mundo, em parte alimento justamente pela insatisfação, o medo e ansiedade crescente na sociedade contemporânea. Além da trama, muito bem montada, outro ponto forte da série é o elenco. Dos protagonistas ao elenco de apoio, todos dão um show de interpretação. Recomendo para quem gosta do gênero.
[1] Legislação
sobre armas de fogo. Wikipedia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Legisla%C3%A7%C3%A3o_sobre_armas_de_fogo#:~:text=A%20Coreia%20do%20Sul%20tem,uma%20delegacia%20de%20pol%C3%ADcia%20local.>.
Acesso em 2 ago. 2025.
domingo, 20 de julho de 2025
L’ ATELIER DES SORCIERS: A PENA ENCANTADA DE KAMOME SHIRAHAMA
No cenário escolhido para a exposição, o hotel Saint-Simon, ajuda a mergulhar ainda mais no mundo fantástico criando por Kamome Shirahama. A entrada, as escadas de pedra em caracol e a própria disposição na qual as imagens selecionadas e as informações sobre a obra foram distribuídas, faz com que o visitante possa entrar dentro da própria história. Há rascunhos, desenhos inéditos e muito material tanto para quem é fã quanto para quem está conhecendo a obra de Shirahama.
É um mangá de muito
sucesso entre os jovens, pois traz para o centro da narrativa questionamentos
do papel que os jovens, em sua pluralidade, podem ter na sociedade e sobre a
emancipação com relação aos adultos. Fala sobre o amadurecimento e tomada de responsabilidades
sobre suas próprias ações. Por atrair um público plural, o mangá se tornou um
sucesso tão grande que em julho de 2024 havia de cópias em circulação 5,5
milhões. Witch Hat Atelier é, também, um mangá apreciado pela
comunidade LGBTQ+, com personagens usando roupas neutras e possuindo o casal
queer. A diversidade de representações que a obra traz faz com que seus
leitores sejam plurais.É um é um mangá seinen, para o público
masculino jovem adulto, mas que acabou atingindo segmentos variados da
sociedade.
POSY SIMMONS - HERSELF
Indo contra a corrente do individualismo
contemporâneo, as histórias desenhadas por Posy Simmonds são fruto de um olhar
meticuloso sobre o outro. Essa leitura refinada do período nos permite perceber
melhor as nuances do nosso cotidiano” (Exposição Posy Simmons. Herself,
Angoulême, 2025).
“Posy Simmons. Por ela mesma” foi uma das exposições mais concorridas durante o 52º FIBD de Angoulême, tanto pela obra e trajetória da autora, uma veterana entre as quadrinistas britânicas, quanto pelo fato de se tratar de laureada de 2024. Sim, estamos falando de um das (poucas) mulheres que recebeu o Grand Prix (o prémio máximo do festival) em duas 52 edições. E ela mereceu, certamente. Esta autora não é conhecida do público brasileiro, mas influenciou várias gerações de artistas britânicos e de outros países, nos quais sua obra foi traduzida, como a França.
Rosemary Elizabeth "Posy" Simmonds é uma cartunista de jornal britânica, escritora e ilustradora de livros infantis e graphic novels. Ela é mais conhecida por sua longa associação com o The Guardian, para o qual desenhou as séries Gemma Bovery (2000) e Tamara Drewe (2005–2006), ambas publicadas posteriormente como livros. Assim como Claire Bretecher usou da sátira e do humor para criar histórias que criticavam e expunham os vícios das classes médias francesas, Posy faz algo bem semelhante, mas com um estilo mais “gentil”.
Ela cria retratos psicológicos precisos, zomba das deficiências da classe média e do cenário cultural, caricatura a seriedade e critica os desenvolvimentos sociais. Entre suas influencias literárias estão escritores como Gustave Flaubert e Charles Dickens. Suas personagens femininas têm como característica serem obstinadas. Elas não necessariamente terão um final feliz. Elas são "heroínas condenadas", como em romances góticos dos séculos XVIII e XIX, mas claro, dialogando com o presente, o moderno. Suas obras mais famosas são Tamara Drewe e Gemma Bovery (Denoël).
Nascida em 1945, a autora completa este ano 80 anos, sendo mais de 50 anos como cartunista. acrescentam mais camadas às histórias. Posy Simmonds ficou famosa nacionalmente por sua tira “The Silent Three of St. Botolph's”, que começou a aparecer no “The Guardian” em 1977 e era sobre três amigas de longa data. Mais tarde, ela publicou-o em livros e desenvolveu-o ainda mais para criar sua primeira história em quadrinhos, “True Love”. Suas outras publicações também começaram como tiras no “The Guardian”.
Simmons publicou ainda livros e quadrinhos infantis. Sua exposição traz essa longa trajetória, mostrando várias facetas da autora, sobretudo, sua preocupação com a memória. Em “Posy Simmons. Herself” temos uma imersão na história dos quadrinhos britânicos antes de chegarmos propriamente na produção da autora. Este detalhe, que pode até passar por despercebido por que está lá apenas pela autora, demonstra a importância dada por ela e pela curadoria do festival em trazer à tona a história dos quadrinhos da qual esta veterana, e porque não dizer, e pioneira faz parte.
Na exposição podemos conhecer mais sobre Posy Simmons. Seu engajamento em questões políticas, sua intimidade, sua visão de mundo e, suas mulheres, figuras tragicômicas que derrubam códigos sociais. Suas influencias também estão presentes, seja na arte ou na literatura. A exposição trouxe ainda desenhos inéditos da autora que, por sinal, abriu a exposição no dia 29 de janeiro, com uma visita guiada exclusivamente para profissionais.
Entre o material inédito da exposição estão os cadernos de Posy Simmons, nos quais podemos perceber como a autora faz sua leitura do cotidiano, sua sensibilidade ao representar em seus desenhos os destituídos e anônimos. Ao mesmo tempo ela denuncia as formas contemporâneas de alienação, dando voz aos anônimos. Pessoas comuns, pessoas que passam por privações e que muitas vezes ficam convenientemente invisíveis para a sociedade. Ela se posiciona conta o individualismo e lança um olhar meticuloso sobre o outro.
Cabe por fim acrescentar que Posy Simmons, além de profissional de grande estatura e que hoje represente uma das vozes mais fortes entre as autoras britânicas, é uma criatura dotada de grande gentiliza. Seu semblante suave e sua voz mansa deixam todos ao seu redor confortáveis. Mas não se deixem enganar por seu semblante sereno. Por detrás dele há uma mulher forte, capaz de colocar em suas obras representações da realidade política e social intensas que nos fazem questionar padrões normatizados de comportamento.
Imagens da exposição – 29 de janeiro de 2025
UMA CONSTELAÇÃO DE MULHERES
Este grupo de mulheres, cada uma em seu próprio estilo e abordando temas diversos, trazem-nos um olhar crítico e bem humorado da realidade da geração dos millenials, também conhecida como "Geração Y", formada por pessoas que nasceram entre os anos 1981 e 1996. A exposição faz um raio x da sociedade espanhola, por meio do olhar de mulheres, que colocam em seus quadrinhos uma carga intensa de emoção, autocrítica, crítica social e, acima de tudo, expressando expectativas e desilusões.
O
panorama cultural e profissional dos quadrinhos espanhóis passou por uma série
de mudanças a partir da década de 1980, com o aumento da demanda pelo produto,
o que levou ao surgimento de novos títulos e possibilitou a profissionalização
de toda uma geração de autores oriundos no underground. O mercado se ampliou,
como a abertura de lojas especializadas e com os primeiros festivais. As nove
quadrinistas que foram escolhidas para ter sua obra exposta na exposição
“Constellation Graphique” representam a geração nasceu no bojo do boom dos
quadrinhos espanhóis, marcado pela dissidência estética, assim como pelo
questionamento de lugares-comuns e formas canônicas de expressão, embora a
estabilidade profissional permaneça um horizonte distante.
![]() |
Roberta Vázquez possui um estilo que se inspira nas fontes da tradição underground, mas canibaliza ícones pop de seu contexto geracional na forma de fan art. Vázquez tem no humor corrosivo uma marca registrada, que lhe permite realizar uma leitura implacável da sociedade líquida e da precariedade econômica que condicionam a vida dos millennials.
Marta Cartu, possui um trabalho que se aproxima com o
de Jeffrey Brown, gradualmente abordando os desafios de uma história em
quadrinhos conceitual, com um olhar sobre os códigos e formas da arte
contemporânea. Sua obra é intimista e reflexiva, e nela a pesquisa formal é
inseparável de uma meditação sobre noções e questões contemporâneas, como
identidade, competitividade e autoexigência, a arbitrariedade dos papeis de
gênero, aspectos utópicos, o potencial distópico das novas tecnologias e a
servidão de múltiplos empregos.
Ana Galvan é a mais experiente do grupo de quadrinistas da exposição e se destaca dentro da vanguarda dos quadrinhos espanhois pela influência de seu corpus oratório e por seu papel impulsionador nas redes de difusão de artistas de vanguarda. Galvan construiu um universo pessoal no qual a influência composicional e cromática do construtivismo russo e uma narração fria e desinteressada foram colocadas a serviço de uma leitura distópica da realidade.
O trabalho de Maria Medem tende à abstração e parte de elementos mais poéticos do que narrativos, aprofundando o que ela mesma chama de estética conelse, uma abordagem formal que exige um tratamento muito específico e essencialista da linha, da cor e do texto. O artista busca a ambiguidade, refletindo a sensação de distância que o leitor percebe em personagens deslocados em meio a paisagens que amplificam a força dos elementos naturais.
Nadia Hafid trabalha junto com Marta Cartu a partir da experimentação formal por meio da composição da página é uma das características das obras de Nadia Hafid e Marta Cartu. A obra conjunta das duas autoras, exposta na exposição, são obras cerebrais e sintéticas nas quais nenhum dos elementos presentes é acidental. Hafid se afasta dos códigos hegemônicos do realismo para se aproximar da estética de um pós-modernismo seduzido pelo potencial expressivo das geometrias fractais e suas infinitas fragmentações. O resultado são quadrinhos estimulantes e vibrantes.
Bárbara Alca em sua obra retrata uma geração (a sua) perdida, decepcionada e às vezes considerada frívola e superficial. Suas histórias hilárias exalam um componente autobiográfico misturado à cultura pop que a torna única em sua geração. Seu trabalho foi publicado nas revistas El País, El Jueves e Ruby Star.
Miriam Persand um dos aspectos mais marcantes da sua obra é ahabilidade de dar vida a criaturas antropomorfizadas. Seu fascínio por animais como corujas, pombos, ratos e jacarés – especialmente jacarés devido aos nossos "cérebros ansiosos reptilianos" – serve como ponto de partida para abordar emoções complexas. Com seu estilo vibrante trata de problemas cotidianos usando abusando das metáforas. Temas como ansiedade fazem parte dos seus quadrinhos, assim como uma busca para o próprio sentido da vida. Persand cria histórias que evocam uma sensação de admiração, expandindo os limites do que é esperado no mundo real.
FOTOS DA EXPOSIÇÃO (29/01/2025)
As informações do texto
foram retiradas do material fornecido pela exposição, complementado por dados
retirados de sites das autoras.































%2020.07.34_d88938bd.jpg)
%2020.07.35_5acfd7c9.jpg)
%2020.07.35_79f60721.jpg)
%2020.07.35_b3282a07.jpg)














%2020.07.32_4af23d47.jpg)
%2020.07.32_b86f8926.jpg)
%2020.07.33_1038626d.jpg)
%2020.07.33_c4e897ee.jpg)

