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Monte Saint-Michel, 23 de janeiro de 2025. |
Algumas coisas definitivamente marcam a vida da gente. Eu me lembro de quando tinha 12 anos de idade e fiquei encantada com as fotos que a minha saudosa professora de Geografia, Heloísa Nogueira (acontece que ela era uma prima distante, fui descobrir mais tarde), levou para a sala de aula, quando foi falar sobre a Cordilheira dos Andes. Eram fotos de uma viagem que ela havia feito, a Machu Picchu, que fica no Peru. Naquela que foi uma aula inesquecível, eu me decidi: vou conhecer Machu Picchu.
Minha mãe costureira, me disse
para eu me contentar com as férias no Rio de Janeiro, na casa da minha tia. Meu
pai, de espírito aventureiro como o meu, me disse que eu trabalhando e juntando
dinheiro, iria onde eu quisesse. E não foi que, alguns anos depois que comecei
a trabalhar, peguei carona em um congresso internacional que estava ocorrendo
em Lima e fui parar em Machu Picchu. Meu pai estava certo, era só uma questão
de tempo, paciência e organização. Matei o desejo de juventude e, literalmente,
corri como uma desvairada pela cidade Inca, explorando cada lugar.
Mais recentemente, eu passei por
uma experiência semelhante. Assistindo a um k-drama (uma série coreana),
chamada "O Pacote" (escrevi sobre ela, quem quiser conferi,
clique aqui)
fiquei fascinada com Monte Saint-Michel, um dos cenários franceses usados no
drama. A curiosidade me fez pesquisar sobre o lugar. O Monte Saint-Michel é uma
ilha rochosa na foz do Rio Couesnon, no departamento da Mancha, na França, onde
foi construída uma abadia e santuário em homenagem ao arcanjo São Miguel, cuja
história remonta ao século VIII. Seu antigo nome é "Monte Saint-Michel em
perigo do mar". Há pessoas que trabalham lá, mas há residentes fixos,
também. Cerca de 30 pessoas. A atração recebe mais de 3 milhões de turistas por
ano.
Quanto mais eu lia sobre Monte
Saint-Michel, maior era a minha vontade de conhecer. Mas aí veio a pandemia de
covid-19 e, mesmo eu tendo ido à França em 2023, não pude incluir Monte Saint
Michel no meu roteiro. Mas como meu pai sabiamente disse, era ter paciência e
planejar. Então, em 2025 eu finalmente consegui ir a Saint-Michel e, de quebra,
ainda pude fazer outros passeios que foram muito bons também.
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Catedral de Rouen, cuja construção foi iniciada em 1030 e encerrada em 1506. A construção tem a classificação de monumento histórico desde o ano de 1862 - 21 de janeiro de 2025. |
Eu reuni um grupo de amigos e fomos para Paris, tendo com destino final Monte Saint-Michel. No aeroporto alugamos automóveis e partimos em direção à Normandia. Embora o objetivo fosse ir a Monte Saint-Michel, coloquei no roteiro algumas paradas. No primeiro dia, pernoitamos em Rouen, capital da Normandia e uma cidade cheia de histórias, exploramos a cidade no segundo dia.
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Eu e o túmulo do Rei Ricardo Coração de Leão, na Catedral de Rouen - 21 de janeiro de 2025. |
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Torre onde Joana D'Arc ficou presa antes de ser queimada na fogueira em Rouen. É o único vestígio do castelo construído no século XIII pelo rei Filipe Augusto - 21 de janeiro de 2025. |
A cidade, também, passou por dois momentos de devastação, primeiro com a Peste Negra, no século XIV e, depois, com os bombardeios durante a ocupação nazista, em 1940, e novamente durante as operações iniciadas com o desembarque do dia D, em 1944. Fomos aos pontos turísticos principais, mas ficamos desapontados com o fato da Torre de Joana D'Arc estar fechada. Essa torre foi onde Joana D'Arc ficou presa e passou seus últimos dias. Ela é o que sobrou Castelo, construído no século XIII.
Pernoitamos novamente em Rouen e,
na manhã seguinte fomos cedo para Saint-Michel. No caminho paramos para almoçar
e passear (este era o plano original) em Bayeux, cidade conhecida pelo museu
onde ficam as famosas Tapeçarias de Bayeux e pelas praias do desembarque
do Dia D. Resumidamente, todos os pontos turismos (com exceção e igrejas) estavam
fechados. Pelo que pude entender, neste período do inverno museus, alguns restaurantes
e loja fecham para um período de recesso, pois é uma época de pouco movimento. Nós
só conseguimos ir até as praias do desembarque, isso debaixo de muita chuva,
mas não deixou de ser emocionante. Vou dizer que nem senti frio, sério. Acho que
foi adrenalina.
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Na Praia de Omaha onde houve um dos desembarques durante a operação militar de 1944, conhecida como dia D - 22 de janeiro de 2025. |
No final do dia chegamos no hotel, depois de enfrentar duas horas de estrada, em um temporal que parecia que não teria fim. Vou ao inverno para a Europa desde 2017, foi a primeira vez que choveu tanto. Nós nos hospedamos em um Ibis, um hotel básico. Mas tinha um ótimo restaurante e uma área comum muito agradável. No dia seguinte, quando formos para Monte Saint-Michel o tempo amanheceu muito melhor e, para a surpresa de todos, o céu abriu e o sol saiu. Foi perfeito.
Fomos de carro, numa viagem que deve ter durado cerca de 15 min, passando por Beauvoir e depois atravessando uma área rural que, por sinal, era muito diferente das áreas rurais que já visitei tanto em Portugal, quando na Suécia e na Suíça. Lá deixamos o carro em um estacionamento e tomamos um ônibus para Monte Saint-Michel. Cerca de 15 min depois avistamos nosso destino. A chegada foi emocionante, vendo a cidadela surgindo no horizonte.
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Chegando ao Monte Saint-Michel - 23 de janeiro de 2025. |
Quando desci do ônibus eu parecia uma criança num parque de diversões. Tirava fotos compulsivamente, para não perder nada. Eu subia e descia as escadarias e ladeiras de Monte Saint-Michel tão empolgada que meus joelhos nem doeram (tenho lesões nos dois joelhos). A cidadela é linda. As casas, as ruas, tudo parecia sair das páginas de um livro. Um verdadeiro cenário de filme. A Abadia é maravilhosa. Construções medievais impecáveis.
Apesar de ser baixa estação para
turismo naquela região, havia muitas pessoas visitando Monte Saint-Michel. Eu
identifiquei espanhóis, coreanos, japoneses e italianos. Havia também excursões
escolares, com crianças do fundamental e do ensino médio.
Foi um dos melhores passeios que
eu fiz em toda a minha vida e recomendo, para quem gosta deste tipo de roteiro.
Aliás, agora tem TGV saindo de Paris para Monte Saint Michel, sem baldeações.
Pretendo, no futuro voltar, até para poder explorar mais a região, que oferece
muitas opções de passeios. E pensar que tudo isso começou com um k-drama, há
seis anos atrás.
Mais todos de Monte Saint-Michel (tiradas dia 23 de janeiro de 2025).