sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A ESCOLHA DA PROFISSÃO: ESCOLHA OU IMPOSIÇÃO?


Hoje acordei com esta pergunta na minha mente. Ela é resultado de uma conversa que tive com uma amiga, já há algum tempo, que comentou desgostosa que a escola não incentivava o aluno a seguir uma vocação mas sim ter uma profissão lucrativa. Ela tem uma filha que deseja seguir carreira na área de humanas porque gosta, porque sente prazer, motivação. A menina é muito inteligente e decidida. Sabe realmente o que quer.

O que acontece é que a escola desmotiva esse tipo de escolha, e sem muita descrição. Quando ela declarou a um professor sua vontade em fazer uma faculdade de letras, na presença da mãe, ele disse que ela era inteligente, deveria tentar algo que desse dinheiro, como medicina e engenharia.

Inicialmente, o que me decepcionou no episódio foi o professor deixar claro que na área de humanas estão os menos inteligentes ou menos competentes. Em segundo lugar, desprezar a escolha da menina porque “assim ela não vai ganhar dinheiro”, logo, não vai se realizar financeiramente. O investimento que os pais dela estão fazendo na sua educação seria, portanto, um desperdício. 

Ora, em pleno século XXI a escolha da profissão ainda é uma imposição social e econômica?

Se este é o caso, eu lamento muito pelos nossos jovens médicos e engenheiros, que cursaram faculdades a contragosto, seja para agradar as famílias, seja para satisfazer o desejo de ascensão econômica  que a sociedade incentiva. Lamento ainda mais pelos clientes, que serão atendidos por médicos desgostosos do que fazem e por engenheiros que não se importam com o resultado final dos seus projetos. Sem falar, claro, que esses profissionais abriram mão de serem bons profissionais em atividades que realmente lhes dariam satisfação, para alimentarem o desejo dos pais, transferido para eles, de ascensão.

E não vou culpar os pais exclusivamente pela escolha dos filhos. A escola tem uma parte enorme de responsabilidade nisso. Ela é formadora de opinião. O que dizer de um professor que diz em voz alta que não quer que seus filhos sejam professores e que aconselha aos alunos buscar algo "que dê dinheiro"? Eu já ouvi muito isso.

Não vou negar aqui a necessidade que todos temos de ter um alicerce econômico. De ter dinheiro para pagar as contas final do mês. Eu estaria sendo hipócrita. Mas estou pensando nas consequências que trazem uma escolha importante como essa, a escolha da futura profissão. Toda profissão é boa. Todo profissional deve procurar fazer aquilo que em aptidão. Enriquecer pode ser uma consequência da dedicação e só se dedica quem gosta do que faz.

E do que adianta ter bens materiais sem a satisfação pessoal? Eu nunca me arrependi de ter optado pelo magistério. É lógico eu gostaria de ter um salário melhor, condições de trabalho melhores e poder trabalhar menos para poder me dedicar mais. Eu tenho dias bons e ruins. Mas não imagino, nem quero me imaginar, sendo outra coisa, fazendo outra coisa.

A sociedade consumista e materialista está criando pessoas insensíveis, autômatos, que cumprem com sua obrigação e não conhecem satisfação. Que chegam em casa sem um sorriso para dar ao filho, porque seu trabalho é chato e estressante, e que compensa essa apatia com presentes. Que forjam relações onde o fator econômico sobressai sobre o humano.

Enfim, não sei se consegui expressar corretamente a minha inquietação, nem sei se ela é realmente procedente. Mas como pessoa e profissional eu sempre vou respeitar as opções dos meus alunos e espero que eles possam fazer o curso que realmente querem. E se não quiserem ingressar em um curso superior, que possam ter uma profissão que lhes traga satisfação. Afinal, chegar em casa cansando, mas satisfeito faz a vida de todo mundo ser melhor.

Vou finalizar com um exemplo que sempre me inspirou. Meu avô, que eu perdi quando tinha quinze anos era pedreiro. Trabalha o dia todo, debaixo do sol. Construiu sua casa e a casa dos filhos. Era um bom marido, um bom pai e um excelente avô. Ele saía cedo para trabalhar, voltava cansado, mas nunca chegou em casa com algo mais do que um sorriso no rosto. Nunca reclamou da profissão que tinha e sempre respeitou as escolhas dos filhos. Meu avô era um homem humilde, mas eu tenho certeza que era um homem feliz e realizado.

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