Este site foi criado para que eu pudesse postar meus trabalhos sobre a História de Leopoldina, sobre História do Ensino e Educação. Com o tempo ele acabou se tornando muito mais do que isso. Hoje eu o uso para fazer reflexões sobre meu trabalho na escola, sobre minhas pesquisas com quadrinhos e sobre minhas opiniões sobre livros e filmes.
Promovido pela Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial (ASPAS) em parceria com o Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Arte Sequencial, Mídias e Cultura Pop; e com o Grupo de pesquisa Criação e Ciberarte, contando com o apoio do Programa de Pós Graduação em Arte e Cultura Visual da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás, o III Fórum Nacional de Pesquisadores em Arte Sequencial (FNPAS) terá como tema “A Arte dos Quadrinhos”.
O evento concentrará suas atividades entre os dias 21 a 23 de outubro de 2016 na Faculdade de Artes Visuais – FAV, da Universidade Federal de Goiás – UFG.
Confira a programação:
Dia 21/10 – sexta – ABERTURA
18:30 – Abertura da exposição HQforismos, com curadoria de Edgar Franco, Cátia Ana Baldoino da Silva e Danielle Barros Fortuna.
19:00 – 21:00 Mesa de Abertura: “Quadrinhos, Cinema e Games”, com os convidados Prof. Dr. Dominic Arsenault (Universidade de Montreal) e Prof. Dr. Iuri Andréas Reblin (Faculdades EST & USP), e terá como mediadora a Profa. Dra. Rosa Berardo (UFG)
Dia 22/10 – sábado: GTS, OFICINAS, LANÇAMENTOS E PERFORMANCE
8:30 às 12:00 – 14:00 às 17:30 – GTS com apresentação de trabalhos.
8:00 às 12:00 – Oficina de HQforismos – Ministrada pela Prof. Msc.
Danielle Barros (Doutoranda da Fiocruz/RJ)
14:00 às 18:00 – Oficina de Fanzines – Ministrada pelo Prof. Alberto de Souza (IFF – Instituto Federal Fluminense, Macaé)
17:30 às 20:00 – Lançamentos de livros, revistas e fanzines.
20:00 – Performance do grupo Posthuman Tantra.
Dia 23 – domingo – ENCERRAMENTO
10:00 às 12:00 – Mesa de Fechamento: “HQ Autoral & HQ comercial: Tangenciamentos”, com os convidados Prof. Dr. Gazy Andraus, (FIG-UNIMESP) e Prof. Dr. Amaro Braga (UFAL) e como mediador o Prof. Dr. Ademir Luiz da Silva(UEG).
CLIQUE AQUI para baixar o Caderno de Resumos com os horários das apresentações de trabalhos.
Crianças e adolescente precisam de responsabilidade. Não importa se pequena ou grande: guardar os sapatos na sapateira, levar o lixo para fora de casa, lavar os copos e as xícaras depois do café da manhã ou mesmo colocar papel higiênico no banheiro. Enfim, qualquer coisa que a criança de habitue a fazer desde pequena. Ajudar em casa faz bem para a criança. Ela se sente produtiva e se torna produtiva também na escola.
A escola, por sua vez deve ver as crianças e os adolescentes como pessoas capazes de assumir responsabilidades. Dê um desafio a uma turma de alunos, a mais agitada da escola, diga que precisa deles, que eles são importantes para executar determinada tarefa. Você pode se surpreender com o resultado da experiência.
Esta semana eu fui designada para ficar em uma turma de sexto ano que não é minha (não leciono para o sexto ano). Não iria dar aula de História, claro, porque não sou a professora da turma, então dei a eles uma tarefa.
Alunos lendo e alunos restaurando revistas! Quem não ajudou, também não atrapalhou!
Fui com a turma para a Gibiteca da escola, inaugurada recentemente. Felizmente a Gibiteca é muito usada pelos alunos da escola. Infelizmente, tenho pouco tempo para reorganizá-la e consertar HQs que ficam danificadas pelo uso. Assim, a Gibiteca estava um pouco bagunçada e havia muitos quadrinhos a serem restaurados. Pedi a eles que me ajudassem nestas duas tarefas.
Acreditem, a princípio achei que eles iriam derrubar a sala mas não é que os danadinhos fizeram exatamente o que eu pedi? Em cerca de 40 minutos eles reorganizaram toda a Gibiteca e restauraram cerca de 30 revistas que estavam com capas rasgadas ou arrancadas. Nem todos se comprometeram, mas aqueles que não quiseram participar da arrumação também não atrapalharam. Ficaram sentados lendo HQs.
Gibiteca após o furacão, digo, da arrumação!
Quando a aula chegou ao final eu me deparei com uma Gibiteca tão bem organizada que fiquei até sem palavras. E o melhor de tudo: agora eles vão dar ainda mais valor para o espaço porque foi responsabilidade deles organizá-lo. Este sentimento, de ser responsável por algo, não vai embora facilmente. Garanto a vocês que esta turma estará sempre pronta a ajudar e participar de tudo que for feito naquela Gibiteca.
Fica aqui meu agradecimento à turma do sexto ano, sala 202, pelo excelente trabalho realizado!
Turma do sexto ano, 202, do Colégio Imaculada Conceição, posando depois da tarefa realizada.
Em
abril deste ano, quando foi a Portugal, ganhei do amigo Pedro Bouça um exemplar
autografado de as Viagens de Loïs - Portugal, de autoria de Luís Differ e
Jacques Martin. Foi um presente especial, por muitas razões.
Primeiramente porque Jacques Martin é, de longe, um dos meus autores preferidos. Em segundo,
porque o álbum é dedicado a Portugal e não apenas conta a História do país
como, também a de seus principais monumentos, muitos deles eu conheci naquela
ocasião. Finalmente, porque tenho uma queda por quadrinhos históricos. Os bons
são resultado de pesquisa minuciosa e, invariavelmente, tornam-se um excelente
recurso didático.
Mas
é melhor esclarecer que não se trata de uma História em Quadrinhos, mas de um
livro ilustrado baseado em uma série de HQs franco-belga chamada Les Voyages de Loïs. Esta série foi originalmente criada em 2003 por
Jacques Martin, com ilustrações de Olivier Páscoa. Série, aliás, que eu não conhecia e que me despertou certa curiosidade. Ela é ambientada no século XVII, durante o reinado de Luiz XIII, paide Luiz XIV. Seu primeiro volume é dedicado a
Versalhes.
Confesso
que o autor Luís Differ era desconhecido para mim. Conheço poucos autores portugueses. Ele é quadrinista, arquiteto e
professor de artes. Já Jacques Martin é um dos mais renomados autores de
quadrinhos franco-belga, falecido em 2010. Martin deixou uma vasta produção, da
qual falarei em outra ocasião.
Como
outros álbuns históricos produzidos por Jacques Martin, Portugal possui
ilustrações magníficas. Tenho, inclusive, um exemplar similar, das Viagens de
Alix (em francês) que mostra a marinha antiga, também muito bonito (este feito
em colaboração com Marc Henniquiau). Misturando textos históricos e ilustrações o livro Portugal nos apresenta a
História de Portugal contada, também, a partir da sua arquitetura.
Lisboa
e Porto são duas referências para o autor, que remonta aos tempos das grandes
navegações e descobertas portuguesas, época do esplendor do reino lusitano.
Para quem conhece Lisboa, por exemplo, pode-se nitidamente identificar
bairros, praças e construções que ainda existem. Ao mesmo tempo a obra nos traz
detalhes e histórias de construções que desapareceram, vitimados por incêndios
ou terremotos. Acho que não é exagero dizer que trata-se de material muito bom para trabalhar educação patrimonial. Eu, pelo menos, trabalharia, caso lecionasse em Portugal.
Igrejas,
palácios, o grande aqueduto que corta Lisboa. Tudo desenhado com uma riqueza de
detalhes que nos permite viajar no tempo. Eu queria ter lido o livro quando
estava em Portugal. Mas a correria de uma viagem de turismo muitas vezes nos
impõe horários apertados e nem sempre sobra tempo para algo simples como ler um
livro, por exemplo. Se o tivesse feito, certamente iria observar com um olhar
mais criterioso o espaço urbano lisboeta.
Lamentações
a parte. Foi um dos melhores presentes que ganhei este ano. Aliás, não posso
reclamar de 2016. Quem acompanha minhas postagens já deve ter visto que fui
presenteada várias vezes, com quadrinhos estrangeiros, raridades, quadrinhos
nacionais. Quase não estou dando conta de falar um pouco de cada um deles.
Mas, por favor, isso não quer dizer que não quero continuar ganhando. Todos
certamente terão espaço, nas minhas prateleiras e nos meus blogs.
Ainda tenho ouvido
muita gente dizendo que o Brasil precisa de intervenção militar e que a ditadura
tem que voltar. Eu nasci durante a ditadura e era criança quando houve o endurecimento do regime. Minhas lembranças sobre a política são vagas e começam
no governo de João Batista Figueiredo. Lembro-me dos pronunciamentos do
Ministro Jarbas Passarinho e de ver na televisão resumos semanais das
atividades presidenciais.
Não vi a repressão
de perto. Venho de uma família humilde e que não se envolvia e pouco entendia de política. Mas sei que meu pai tinha medo e sabia o que poderia acontecer com
quem fosse considerado um inimigo do Estado. Lembro-me que, aos nove anos cheguei à minha casa, depois da
escola, dizendo que quando crescesse seria comunista. Meu pai quase teve uma
parada respiratória. Palavras dele:
- "Não repete
isso, senão a polícia vai vir aqui em casa, levar você e papai nunca mais vai
te ver".
Nem todas as pessoas entendiam de política ou eram adeptas
de uma ou outra ideologia, mas todos sabiam o que acontecia com quem desafiava
o regime. Mas será que sabiam mesmo?
Sabiam o nível de
sadismo ao qual os torturadores poderiam chegar?
Das mulheres grávidas
torturadas e dando a luz na prisão?
Das crianças
tiradas das mães ao nascer e que nunca mais foram encontradas?
Das pessoas que
enlouqueceram ou se mataram por não suportar a crueldade de torturadores?
Muito do que aconteceu nos porões da ditadura ainda não foi
revelado. O desconhecimento dos fatos é o que leva muitas pessoas a apoiarem
regimes autoritários e ditatoriais. A apoiarem golpes, como se apenas a tomada
do poder pela força ou por mecanismos jurídicos discutíveis fosse solução para os problemas do país. Em
minha opinião, a solução é o povo se educar, conscientizar, tomar a palavra pela
razão e não pela força.
Vou dar minha contribuição para este processo de educação, de
conscientização, compartilhando um vídeo que foi ao ar pelo SBT em 2014.
Assistam e entendam porque a ditadura e o fim da liberdade são ruins. Não
porque eu disse, mas porque você vai ouvir da boca de quem sentiu na pele o que
um regime sem limites pode fazer com o cidadão.
Quem sabe assim não
se valorize mais a democracia, onde podemos errar, mas temos sempre a
possibilidade de consertar o erro, por meio do voto e da pressão popular e não
pela força e pela imposição de um governo que vai contra o desejo do povo.
Se este
ano eu matei a vontade de ir a uma Olimpíada achando que seria uma das melhores
experiências da minha vida, eu não poderia estar mais enganada. Muito melhor do
que as Olimpíadas foram as Paralimpíada.
O Rio
2016 recebeu para as Paralimpíadas cerca de 4 mil atletas, de 176 países. O grande número de países e
atletas envolvidos já sinaliza para o fato de que se trata de um conjunto de
competições com um significado muito amplo. Se o esporte, em si só, representa um esforço de superação,
de teste, dos limites humanos para uma atleta paralímpico é muito mais do que
isso.
O
que eu pude observar nos dois dias em que fui ao Parque Olímpico assistir
modalidades como natação, basquete com cadeira de rodas e goalball foi aquilo
que eu sempre imaginei ser o tal “espírito olímpico”: a alegria de poder estar
competindo.
Prova de natação, no Parque Olímpico, dia 10 de setembro de 2016.
Saindo
do jogo de handball, durante as Olimpíadas, eu encontrei com alguns membros
da equipe francesa visivelmente aborrecidos por terem ficado com uma medalha de prata. Parece
que para eles participar não foi suficiente.
Já
entre os competidores das Paralimpíadas não havia tristeza em quem perdia, mas
a satisfação de poder estar ali, numa quadra ou numa piscina, praticando
esporte quando muita gente acredita que deficientes são pessoas limitadas.
Deixa
eu contar uma coisa: todos nós temos limites, mas algumas pessoas se atrevem a
superá-los. O que dizer de uma nadadora sem uma perna ou com um braço
defeituoso que faz um tempo melhor do que um jovem saudável? Ou de uma
cadeirante que, durante um jogo de basquete é derrubada e se levanta sozinha,
com cadeira e tudo, como se fosse uma ninja?
Basquete Feminino com cadeira de rodas - Arena Olímpica, dia 13 de setembro de 2016.
Confesso
que há um tempo atrás eu veria nestas pessoas os limites que o corpo ou a
sociedade impõe a elas. Depois das Paralimpíadas eu sinto vergonha de não ser tão
determinada quanto eles. Que Bolt nada! Estas pessoas, estes atletas, homens e
mulheres são os verdadeiros heróis olímpicos.
E
aí vem minha revolta com o tratamento que as Paralimpíadas receberam da mídia.
O Brasil parou para as Olimpíadas mas, de certa forma, virou as costas para as
paralimpíadas. A torre da Globo, por exemplo, que nos Jogos Olímpicos estava
fervendo de gente, nas Paralimpíadas estava vazia e, acredito, fechada. Não estou afirmando que não havia ninguém fazendo cobertura mas, certamente, eram poucos jornalistas. Mesmo a presença da imprensa internacional estava pequena.
Havia
poucos fotógrafos e poucos jornalistas em comparação com o evento anterior. Imagino
que mostrar atletas deficientes competindo não atraia muitos patrocinadores.
Com jogadores de Goalball, da Suécia, na Arena do Futuro, no dia 13 de setembro de 2016.
Por
outro lado, isso tem uma parte positiva. Por não ser um evento tão
glamourizado quando as Olimpíadas, as Paralimpíadas abrem espaço para a
inclusão de jovens e crianças que não teriam condições para assistirem a uma
competição internacional de alto nível. Com um preço bem acessível foram
disponibilizados ingressos para escolas, que lotaram as arenas. Crianças de
escolas públicas, muitas delas de regiões carentes do Rio de Janeiro e cidades
próximas, puderam participar dos jogos.
Isso,
minha gente, faz toda a diferença!
Alunos e professores do Colégio Imaculada Conceição, de Leopoldina (MG), no Parque Olímpico, dia 13 de setembro de 2016.
Eu
acompanhei um grupo da escola particular na qual trabalho e, no mesmo dia e nas
mesmas competições, estava também um grupo de alunos da minha outra escola,
municipal. Duas realidades diferentes compartilhando a mesma experiência. Nem
posso dizer a alegria deles quando o nome da escola foi anunciado na Arena do
Futuro, ou de como outros alunos fizeram a alegria de atletas tietando e
tirando fotos.
Os
atletas merecem este carinho. Os jovens precisam aprender com eles e com seus
exemplos de superação.
Os
jogos tem um papel duplamente pedagógico. Eles ensinam aos jovens o significado
de inclusão, de solidariedade e de superação e, ao mesmo tempo, servem de
incentivo para os atletas. E não para por aí. Após os jogos vão ocorrer as Paralimpíadas
Escolares, em São Paulo, de 21 a 26 de novembro (clique aqui
e veja o regulamento), com o objetivo de “estimular a participação dos
estudantes com deficiência física, visual e intelectual em atividades
esportivas de todas as escolas do território nacional, promovendo ampla
mobilização em torno do esporte”.
Enfim,
por tudo isso e muito mais eu me apaixonei pelos Jogos Paralimpícos que, com
certeza, foram um sucesso e vão marcar a vida de todos que puderam assistir,
seja pessoalmente, seja pela televisão (porque, felizmente, algumas emissoras
transmitiram).
Um pouco de
História
Eles
foram idealizados foi Ludwig Guttman, neurologista alemão, que, em 1948,
resolveu organizar uma competição esportiva com veteranos da Segunda Guerra
Mundial que sofreram com lesão na medula
espinhal. Os jogos ocorreram em Stoke Mandeville, na Inglaterra. Quatro anos
mais tarde, competidores da Holanda uniram-se aos jogos e, assim, nasceu um
movimento internacional (atualmente chamado de movimento paralímpico) que
conseguiu que os primeiros jogos com atletas portadores de deficiência fossem organizados
em Roma, em 1960.No início foram 400 atletas envolvidos, atualmente o
número é dez vezes maior.
Os
Jogos Paralímpicos normalmente ocorrem no mesmo ano dos Jogos Olímpicos e,
desde as Olimpíadas de Seul, em 1988, também têm sido sediados no mesmo local.
O
Goalball é uma modalidade esportiva
criada exclusivamente para pessoas cegas ou com baixa visão. Teve início na
Alemanha, em 1946, como forma de ressocialização de ex-combatentes que haviam
perdido a visão, ou parte dela, durante a II Guerra Mundial. O esporte foi
idealizado pelos professores Hanz Lorenzen e Sepp Reindle.
O
Goalball é um esporte de equipe, disputado por dois times com três jogadores e
três atletas reservas. Todo jogador deve, obrigatoriamente, utilizar venda
oftalmológica durante as partidas, de modo que um atleta com visão parcial não
obtenha qualquer vantagem. O goalball é disputado nas categorias masculina e
feminina.
As
partidas são disputadas em dois tempos de 12 minutos, com três de intervalo.
Quando uma equipe abre dez gols de vantagem, o confronto é encerrado
imediatamente, não importando o tempo da partida.
Mesmo
que ainda pouco conhecida no Brasil, a modalidade conta com a intensa
participação de pessoas com deficiência visual. Justamente devido ao grande
número de atletas, o Brasil teve uma enorme evolução neste esporte, ganhando,
pela primeira vez, a medalha de prata nas Paralimpíadas de Londres em 2012.
Imagem disponível em: http://zip.net/btts2h, acesso em 09 de set. 2016.
Eu ganhei recentemente duas HQs do Tio Patinhas,
personagem icônico da Disney, criado por Carl Barks, em 1947. Pode parecer
estranho mas eu nunca tive HQs do Tio Patinhas, nem quando era criança. Eu lia,
claro! Pegava emprestado de amigos ou lia na casa de primos, mas nunca ganhei
ou comprei.
Primeiro, porque na minha infância, não havia o
hábito na minha família de comprar livros ou HQs. Segundo, porque eu sempre
tive preferência, desde pequena, por terror, aventura e superaventura então,
quando comecei a juntar as moedinhas do lanche para comprar HQs fui logo atrás
das da Marvel. Então, imagino que agora eu esteja fazendo o caminho inverso.
Mas ler o Tio Patinhas adulta e com um grau de
informação mais apurado sobre o personagem é uma experiência interessante. É
uma leitura que agora leva em conta a análise dos discursos e das
representações que os quadrinhos trazem. Digamos que deixa de ser uma mera
atividade de lazer para se tornar uma atividade intelectual. Então, agradeço
duplamente a quem me presenteou, por estar estimulando minha mente e me
proporcionando a oportunidade de poder refletir e contextualizar sobre vários
temas.
Para quem não é da área de comunicação, história ou
sociologia, talvez ache que eu estou exagerando um pouco. O que pode haver
demais na leitura de um quadrinho criado pela Disney?
Não podemos esquecer que a Disney é uma mega
empresa, que se espalhou por todo o planeta. Uma empresa que investe na
comunicação, que vende sonhos através de HQs, animações e filmes. Uma empresa
que consegue entrar na mente de crianças e de adultos. Ela estabelece padrões
de comportamento, que hoje são globalizados, assim como estimula o consumo e
dissemina ideologias.
Todos eles estes produtos midiáticos trazem um
discurso e, como bem diz Eni Orland (e eu não canso de repetir), todo discurso tem uma ideologia. Então
posso garantir que a leitura de uma HQ do Tio Patinhas não é tão inocente o
quanto parece. O Tio Patinhas é possivelmente a representação mais bem
elaborada do capitalista moderno.
Ele é uma releitura do protagonista de um Conto
de Natal, o avarento Ebenezer Scrooge, uma das obras mais conhecidas de Charles
Dickens e que já rendeu várias adaptações, tanto para quadrinhos quanto
pra o cinema. O Tio Patinhas coloca o dinheiro como um valor máximo. Pode até
ter ações altruístas, em determinado momento, mas defende os valores
capitalistas acima de tudo. Carls Barks também se identificava com o
personagem. Tinha fama de pão duro. Não era dado a gastos desnecessários e era
um poupador.
E falando novamente de Barks, a primeira revista
que eu ganhei, presente de uma aluna, é justamente uma coletânea de suas
histórias, trazendo ainda algumas aventuras do Prof. Pardal. Em todas
basicamente há alguma caça ao tesouro, viagens por lugares longínquos e alguma
competição maluca sobre quem ganha mais dinheiro. Nas histórias mais longas,
ele divide espaço com seus sobrinhos (Donald, Huguinho, Luisinho e Zezinho),
mas também protagoniza quadrinhos de uma página, geralmente cômicos.
A outra HQ é sueca, ganhei um pouco depois, de um
amigo, juntamente com mais outros quatro títulos. Cheguei a fazer uma postagem
sobre uma delas, Bamse, que é tipicamente sueca (clique aqui para
conferir) e devo postar algo sobre uma terceira revista, em breve. A revista Farbror
Joakim (Tio Patinhas), não é muito diferente das publicadas pela Disney no Brasil, onde
aparecem aventuras do pato mais rico do mundo. Ela possui a mesma dinâmica: Tio
Patinhas está atrás de algum tesouro, acompanhado de seus sobrinhos, passa por
dificuldades mas, no final, acaba tendo lucro de alguma forma. Claro, eu me
limitei a “ler imagens” e traduzi uma ou outra palavra (mas a palavra slut, final,
eu aprendi sozinha).
Em uma pesquisa rápida descobri que os quadrinhos
da Disney tem uma grande saída na Suécia. O Pato Donaldo (Kalle Anka) é
publicado naquele país desde 1948, sendo que o título Kalle Anka & Co.(Pato Donald e Cia), ao que parece, é a HQ número um no mercado sueco. O
personagem é muito popular por lá. O que não é de se surpreender, uma vez que a
Disney vem conquistando mercados no mundo todo desde a primeira metade do
século XX. Na Holanda, por exemplo, o nosso Zé Carioca é um dos personagens
mais queridos. Em 2013 ele ganhou uma avó: Oma Carioca (Vovó Carioca)
criada pelos artistas holandeses Jan Kruse e Bas Heymans.
Produto típico da cultura estadunidense, os
quadrinhos da Disney se tornaram ao longo dos anos alvo de estudos e análises
feitas por pesquisadores de diversas áreas. Uma das obras mais conhecidas, pelo
menos no Brasil, sobre o assunto é o livro Para ler o Pato Donald –
comunicação de massa e colonialismo, de Ariel Dofman e Armand Mattelart,
publicado nos anos de 1970 e republicado várias vezes no Brasil. Mais
recentemente, em 2002, Roberto Elysio dos Santos publicou o livro Para
reler os quadrinhos Disney – linguagem, evolução e análise de HQs. Há, ainda
várias biografias de Walt Disney, além de teses, dissertações e artigos que
podem ser facilmente encontrados na internet, para download.
Olha a turminha animada. A primeira parada foi o Palácio de Cristal!
Ontem eu acompanhei uma turma de 30 alunos, com mais outras
três professoras, a um passeio a Petrópolis (RJ). Já é uma tradição da escola
presentear nossos alunos do nono ano com uma viagem, visto que eles devem nos
deixar no final do ano letivo. A maioria deles está conosco desde a educação
infantil, então, não é exagero dizer que tivermos uma parcela de participação
na sua formação geral.
Foi uma das melhores viagens que fizemos. Os alunos foram
muito elogiados onde fomos. Não houve graves incidentes. Bom, eu tropecei e cai
na calçada, mas ninguém riu e eu não me machuquei. Também tive que limpar o vômito
de um aluno que, definitivamente, não pode comer salgadinhos e entrar num
ônibus para viajar (as outras professoras passaram mal de olhar e sobrou pra mim). Tirando
estes pequenos infortúnios (que de certa forma até tornaram a viagem mais
interessante), como eu disse, uma ótima viagem.
E sabem o que foi o melhor dela? A forma carinhosa como os
alunos nos trataram.
Se a memória não me falha, lá pelos idos de 2014 eu fiz uma
postagem com o título mais ou menos assim: “O que faz uma professora feliz”. De
lá pra cá foram momentos felizes, tristes, uns até desesperadores. Faz parte
acredito da vida de quem trabalha com um público que muda a cada ano. E muda de
diversas formas.
Assumimos turmas novas ou continuamos com as antigas. Só que
este “continuar” é bem relativo. O processo de educar (e aí incluo a educação escolar
e a forma como se desenvolvem as relações em entre pessoas) é diferente a cada
no mesmo que o público seja o mesmo. As pessoas mudam de várias formas.
Passaram o chapéu e me compraram uma caneca do Pokémon para mim: não sabia se ria ou se chorava, então, fiz os dois.
O professor muda porque em sua vida profissional e pessoal
ele tem que constantemente fazer opções, escolhas. Acho muito difícil estas
escolhas não afetarem seu trabalho ou suas relações pessoais. Com os alunos
acontece o mesmo. Por exemplo, esta turma com a qual eu viajei eu acompanhei durante
três anos. No primeiro ano, foi um paraíso. Tudo maravilhoso, alunos empenhados
e interessados. No segundo ano, já não foi bem assim. Na verdade, foi um ano de
conflitos. Creio que tanto eu quanto eles estávamos passando por mudanças, nos
adaptando, tentando ultrapassar obstáculos.
Já no terceiro e último ano fica a impressão de que nós
aprimoramos nossa convivência, a nos respeitar, a aprender juntos, porque aprendo
com eles todos os dias. Existe uma harmonia que me permite ensinar sem medo de
errar, que lhes permite questionar sem medo de serem coibidos.
Tudo isso me leva a concluir, depois de quase 23 anos de
magistério, que participar do processo de ensino aprendizagem não pode ser
possível (pelo menos pra mim), sem se desenvolver uma base afetiva com os
alunos. Não que isso vai garantir o aprendizado do conteúdo, que nem sempre vai
ser o que importa. Vejam bem, não estou me desfazendo do ato de ensinar
História, mas afirmando que ensinar História vai muito mais do que datas e
fatos. O professor de História forma pessoas. Daí o medo que se tem de nós, daí
projetos de lei que querem acabar com nossa liberdade de expressão.